A existência de várias opções para o emprego de qualquer recurso é chamada pelos economistas de tradeoffs, os quais fazem que nossas decisões possam ser consideradas boas ou ruins
As pessoas não tomam decisões de determinada forma porque estudaram economia. Ao contrário, a teoria econômica é que nasceu da observação sobre a forma como as pessoas decidem e agem. Mas é possível melhorar nossas escolhas se conhecermos alguns princípios da tomada de decisões individuais que a economia ensina.
Princípio número 1: Pessoas enfrentam tradeoffs. Há um dito popular que afirma: "Nada é de graça". Para obter algo que desejamos, em geral temos de abrir mão de outra coisa da qual gostamos. Como dizia Roberto Campos: "Não dá para ter o almoço e o dinheiro; ou um ou outro". Pense em uma família discutindo como gastar o décimo terceiro salário. Eles podem viajar para Paris, comprar um carro, pagar uma dívida ou poupar para a aposentadoria ou para custear a universidade dos filhos.
A existência de várias opções para o emprego de qualquer recurso é chamada pelos economistas de tradeoffs, os quais fazem que nossas decisões possam ser consideradas boas ou ruins, dependendo da comparação com as alternativas.
Princípio número 2: O custo de alguma coisa é do que você desiste para obtê-la. Uma coisa não vale apenas em função dela mesma mas também, em função do que se desiste para obtê-la. Se as pessoas enfrentam tradeoffs, a tomada de decisões requer comparar os custos e os benefícios dos vários cursos de ação. A dificuldade está em que os custos de alguma ação podem não ser tão óbvios. Tomemos como exemplo a decisão de cursar uma faculdade em tempo integral. Os benefícios esperados são mais ou menos claros: sucesso profissional e boa renda por toda a vida.
Quanto aos custos, alguns são facilmente mensuráveis, como as mensalidades escolares, os materiais e o gasto com transporte. São "custos explícitos", cujo cálculo é simples. Esse cálculo, porém, ignora o maior custo de frequentar a universidade: o tempo, que é um "custo oculto", cujo valor é igual à renda que poderia ser obtida trabalhando durante os anos de escola. Esses custos ocultos recebem o nome de "custo de oportunidade", ou seja, o valor daquilo de que se abre mão.
Brinco com os casais, sobretudo os noivos, perguntando se eles analisaram o tradeoff entre "casar ou ficar solteiro". Digo que não dá para ter o conforto de casado e as alegrias de solteiro. Ou uma coisa ou outra (aliás, muitos casamentos acabam exatamente porque os cônjuges querem manter as duas coisas). A escolha requer examinar os custos de oportunidade (ou, ainda, custo da renúncia).
Princípio número 3: As pessoas respondem a incentivos. Considerando que as pessoas tomam decisões comparando custos e benefícios, seu comportamento pode mudar quando os custos ou os benefícios se alteram. Ou seja, as pessoas respondem a incentivos. Quando o preço da carne de boi dispara, por exemplo, as pessoas decidem comer mais frango e menos carne bovina, porque o custo desta está maior.
Uma das razões pelas quais o Brasil conseguiu botar quase todas as crianças na escola foi a criação do Bolsa Escola, que os pais só recebiam se os filhos estivessem matriculados e frequentando as aulas. No passado, o brasileiro não usava cinto de segurança nos automóveis. De repente, veículos sem cinto passaram a ter prêmio de seguro mais alto, e isso foi decisivo para a adoção em massa do cinto de segurança.
Princípio número 4: Pessoas racionais pensam na margem. Um dos mais importantes conceitos em economia é a "utilidade marginal". Imagine que você esteja há dias no deserto, morrendo de sede e seu corpo desidratado. Subitamente, surge alguém vendendo água. O vendedor lhe pede R$ 100 por um copo de água. Sua sede é tanta que você paga. Ele lhe oferece um segundo copo por R$ 50. Você paga. Depois de comprar cinco copos, ele lhe oferece o sexto copo por R$ 10.
Como a "utilidade marginal" do sexto copo é nula, você não paga, pois você já nem aguenta mais água. Os copos de água são todos iguais. Mas a satisfação que o primeiro lhe proporciona é muito maior do que o sexto copo. Por isso, embora o produto seja o mesmo, o preço da primeira unidade é maior do que da última. Não é isso que acontece com o tomate na feira? O mesmo tomate é vendido por um preço alto às 8 h da manhã e por um preço baixo ao meio-dia.
Embora esses princípios sejam importantes no âmbito da tomada de decisão individual pelas consequências que provocam, a compreensão deles para os formuladores de políticas públicas é fundamental para a eficácia das ações de governo.
José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo
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