Das câmaras de vereadores à Câmara Federal, dos prefeitos à presidente, todos encontram-se desafiados pelo surpreendente sentimento de insatisfação que tem tomado conta da sociedade. Desde as jornadas de junho de 2013, muitos se dedicam a tentar compreender o significado de toda essa indignação.

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Não é difícil ter pistas do que significa essa indignação quando vemos a precariedade dos discursos de muitos deputados federais, que vimos no triste espetáculo da votação do impeachment na câmara federal. Enquanto alguns sentenciam que esta câmara é a simples representação fiel da sociedade, e toda a sociedade tem os líderes que “merece”, o sentimento dominante é que essas lideranças não nos representam, e não podemos ser condenados a merecê-las.

A sociedade pede novas formas de fazer política

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Parece não haver, no entanto, uma saída política com verdadeira representatividade que seja capaz de fazer frente a essa realidade caótica de lideranças despreparadas. Eis o beco no qual nos encontramos.

Dessa forma, predomina na sociedade o sentimento de negação, e falta um programa de ação realmente legítimo. Disto resulta o impeachment da presidente da República para ser substituída por um presidente interino, Michel Temer, que demonstra, desde o primeiro dia, sua mediocridade, que estava disfarçada pelo seu papel eminentemente decorativo, como disse certa vez, que cumpria no governo Dilma.

No governo interino, temos um Ministro da Saúde que fala contra o SUS, a previdência foi entregue às tesouras do Ministro da Fazenda, a Cultura foi rebaixada a uma repartição do Ministério da Educação, o Ministro das Cidades paralisa obras para moradias, e assim vamos caminhando para trás.

E a sociedade segue abismada por ter sido capaz de eleger lideranças tão pouco preparadas para o tamanho de suas tarefas, e isso não ocorre só no espaço público. Temos visto instituições privadas tendo comportamentos que, a rigor, atuam contra a própria missão delas.

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Nessa semana, tornou-se pública a atitude da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) que simplesmente afastou uma série de professores integrantes do sindicato por terem escrito, no jornal da entidade sindical, críticas à universidade e ao seu dirigente máximo, o reitor. Bom, o mínimo que se espera de um sindicato dos trabalhadores é que teça críticas ao patrão.

O reitor da PUC-PR ameaça processar os professores, alegando ter sido pessoalmente ofendido, e proibiu-os temporariamente de continuar dando aulas, uma medida da qual só se tem conhecimento em tempos de ditadura. Na democracia, é absolutamente natural que um dirigente seja criticado. Se alguém assume tão elevada posição, como a de reitor, deputado ou presidente, o mínimo que se espera é que esteja preparado para ouvir críticas.

Indignados com a mediocridade de um reitor que pretende calar os professores, centenas de estudantes da PUC-PR tem feito manifestações contra as arbitrariedades da universidade.

Ainda no setor privado, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) tem utilizado, como recurso de manifestação, um pato amarelo inflável que volta e meia aparece em manifestações contra o impeachment. O pato seria uma forma de criticar o aumento de impostos, com a palavra de ordem “não vou pagar o pato”, impostos esses que, aliás, revertem recursos para a própria FIESP (e essa parte do pato a entidade não quer cortar).

Mas a maior trava para o desenvolvimento industrial está longe de ser os impostos, e sim altos juros praticados no Brasil que, definitivamente, travam o desenvolvimento econômico. Aliás, em 2011 a FIESP iniciou o movimento “Brasil com juros baixos”, que unificava entidades empresariais e de trabalhadores, mas sem maiores justificativas, a instituição abandonou a causa, e, de forma medíocre, preferiu “jogar para a torcida” uma campanha contra os impostos, deixando de lado a própria causa dos industriais.

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Por isso, acredito que várias dessas manifestações reivindicam, na verdade, a necessidade de lideranças criativas e que estejam à altura das tarefas assumidas. O sentimento geral é de que temos representantes que não nos representam. A sociedade pede novas formas de fazer política, em que não sejamos dependentes de representantes, na sua maioria medíocres, e sim que possamos agir diretamente nas decisões políticas.