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Desde o dia 13 está ali, na cela do Batalhão de Guardas, tendo Joel Silveira como companheiro, e um cartaz na parede com o lema: ‘A guarda morre, mas não se rende’. Joel colocou por cima a página inteira de um jornal com a cara do Papai Noel. O bom velhinho sorri estupidamente, com suas bochechas coloridas, mas não dá para salvar nem alegrar a noite de Natal que se aproxima.

Os advogados dos dois, dele e do Joel, haviam negociado uma visita dos parentes, mulheres e filhas, mas o comando da região militar vetou a visita aos presos do AI-5. Deviam ser comunistas e não mereciam o Natal dos homens de boa vontade que acreditavam em Deus e no Natal.

A noite caiu, a lâmpada empoeirada que pendia do teto não lembrava luz, lembrava calor, o verão daquele ano fora terrível. Para abreviar a noite, resolveram dormir mais cedo, mas a porta de repente se abriu e entraram dois soldados com duas bandejas. O comandante do batalhão, um homem distinto, que parecia não ter nada a ver com a prisão da qual era carcereiro, mandava uma garrafa de vinho nacional – que o Joel classificou como vagabundo, mas bebeu-o todo. Evitei me contaminar com o vinho dos vencedores.

Havia passas, um pedaço de panetone e uvas, que pareciam boas. Lembrei o verso de André Eloy Blanco: ‘Madre, son acidas las uvas de la ausência’. As uvas do cárcere também são ácidas, mesmo assim, provei uma. Não estava tão ácida assim, mas amargou aqui dentro.

Depois do vinho, Joel começou a cantar o "Noite Feliz" e me convidou para fazer o mesmo. Eu não havia bebido nada e detesto de coração a canção natalina. Fiquei só ouvindo a voz desafinada do meu companheiro dizendo que um pobrezinho havia nascido em Belém. Parece que para nosso bem.

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