O sistema bipartidário americano é único no mundo, correspondendo em grandes linhas a dois elementos culturais e ideológicos em tensão permanente na ideologia em que se baseiam os EUA, o que impede qualquer comparação com sistemas partidários de outros países e culturas. As forças em conflito, identificadas com os partidos, são fundamentalmente impulsos opostos vindos da visão dos EUA como a terra dos eleitos, nova Jerusalém construída sobre uma montanha, presente nos seus mitos ideológicos de origem.

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Um é o impulso centrípeto, que considera que este destino manifesto faz dos EUA um lugar de suma ordem, a ser mantida socialmente e pela força se necessário, uma vez que quem a viola é por definição um réprobo sem direitos. O outro é o impulso centrífugo, que tira da mesma premissa a conclusão de que os eleitos são iguais em direitos, subordinando o interesse social ao interesse pessoal de cada um, mas igualmente negando aos identificados como réprobos o direito de cidadania. Não é bom negócio para um americano não corresponder ao modelo.

Não é bom negócio para um americano não corresponder ao modelo

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Atualmente, o Partido Republicano se identifica ideologicamente com o impulso individualista e o Democrata, com o coletivista. Os candidatos oriundos do interior das máquinas partidárias – Hillary Clinton no Partido Democrata e Rafael “Ted” Cruz no Republicano – levam ao extremo caricatural essas tendências, neste momento em que a ideologia se vê ameaçada pela dissolução pós-moderna.

Cruz é americano por opção – o que, aliás, é um problema legal de sua candidatura. Nascido no Canadá, chegou aos EUA e ao protestantismo fundamentalista aos 5 anos de idade, seguindo os passos do pai cubano, antes nominalmente católico. Para os individualistas mais radicais, pai e filho são exemplos de adoção do sonho americano, tendo deixado para trás o catolicismo e a cultura latino-americana e abraçado plenamente o destino manifesto e a superioridade moral e cultural da religião cívica americana.

Já Hillary é de pura linhagem branca, anglo-saxã e protestante; subiu na vida pública levada pelo marido – ou, diriam muitos, levando nas costas o marido, o ex-presidente Bill Clinton. Engoliu o sapo das humilhações públicas a que ele a sujeitou com seus casos extraconjugais; foi preterida pelo partido em favor de Obama, mas trabalhou em sua administração, sempre fazendo o que podia para saciar sua enorme ambição. Todas as guerras de agressão americana deste século tiveram seu apoio e participação política. Com seu histórico de insegurança agressiva, assusta pensar o que faria se finalmente se visse ocupante oficial do Salão Oval.

Frutos que são de seus partidos, seriam Bush e Obama em versão exagerada na política interior, e novos Átilas na exterior.

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