Quais são os motivos que nos induzem a acreditar na Ressurreição de Jesus? É ainda possível para nós fazermos a experiência do Ressuscitado? Há provas de que Ele esteja vivo? Por que não aparece mais? São as perguntas que também nós hoje nos fazemos. A essas perguntas, os evangelistas Marcos, Lucas e Mateus respondem dizendo que todos os apóstolos tiveram hesitações. Não chegaram nem depressa e nem com facilidade a acreditar na Ressurreição. Também para eles o caminho da fé foi longo e difícil, embora Jesus lhes tivesse dado muitos sinais para mostrar que estava vivo e que tinha entrado na glória do Pai. A resposta que o evangelista João dá é diferente. Ele narra o episódio de Tomé. Escolhe esse apóstolo como símbolo das dificuldades que todos os discípulos encontram para conseguir acreditar na ressurreição de Jesus. Por que escolheu justamente esse apóstolo? Quem sabe... Talvez porque foi mais difícil para ele ou porque demorou mais tempo do que os outros para chegar à fé. O que João quer dizer aos cristãos das suas comunidades, e a nós também, é o seguinte: o Ressuscitado tem uma vida que não pode ser apalpada com as mãos e nem vista com os olhos. Só pode ser objeto da fé. Isto também vale para os apóstolos, embora tenham tido uma experiência única do Ressuscitado. Não pode haver fé naquilo que foi visto. Não há provas científicas da Ressurreição. Se alguém quiser ver, constatar, tocar, deve renunciar à fé. Nós afirmamos: "Bem-aventurados os que viram". Para Jesus, ao invés, "bem-aventurados são aqueles que não viram". Por quê? Talvez, pensamos nós, seja mais difícil para eles, acreditar e, portanto, são credores de maiores méritos. Mas não é assim. Felizes são eles porque têm uma fé mais genuína, mais pura, aliás esta é a única fé pura. Aquele que vê tem a certeza da evidência, possui a prova irrefutável de um fato, não, porém, a fé. O caminho que todos os discípulos são chamados a percorrer é apresentado por João no final do trecho de hoje. "Jesus fez ainda muitos milagres na presença dos discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, e para que, acreditando, tenhais a vida". Eis a única prova que é apresentada para quem procura motivos para acreditar: o próprio evangelho. Ali ecoa a palavra de Cristo, ali resplandece a sua pessoa. Diante da proposta que nos vem do evangelho, todos são convidados a dar a sua adesão: podem, porém, recusá-la também. Não há outras provas além desta mesma palavra. Para entender tudo isso, serve de subsídio lembrar aquilo que Jesus diz na parábola do Bom Pastor: "As minhas ovelhas reconhecem a minha voz" (Jo 10,4-5). Não são necessárias aparições! No evangelho ecoa a voz do Pastor e para as ovelhas que lhe pertencem o som da sua voz é suficiente para que o reconheçam e o sigam. É possível, para nós, nos dias de hoje, repetir a experiência que os apóstolos tiveram no dia da Páscoa e também " oito dias depois? De que forma? Os discípulos estavam reunidos no cenáculo. O encontro ao qual João se refere é evidentemente aquele que acontece "no dia do Senhor", aquele no qual, cada oito dias, a comunidade cristã é convocada para a celebração da Eucaristia. Quando todos os que creem estão reunidos, eis que aparece o Ressuscitado. Ele, pela voz do celebrante, saúda os discípulos e almeja, como nódoa da Páscoa e "oito dias depois": "A Paz esteja convosco".
Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.
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