Celebramos neste domingo a entrada de Jesus em Jerusalém, recebido com muitos ramos e alegria. É lida também a Paixão de Jesus segundo o Evangelho de Lucas. Este evangelista não perde nenhuma oportunidade para destacar a bondade e a misericórdia de Jesus. Ao narrar a paixão também ressalta este aspecto. Se alguém, durante a noite, invadisse a nossa casa para roubar ou para causar qualquer outro dano, a nós ou a nossos filhos, muitos estariam dispostos, se necessário, a fazer uso de alguma arma para defender-se. E se durante a luta, eventualmente, um dos assaltantes ficasse ferido, provavelmente levaria uma lição para nunca mais ser esquecida: seria moído de pancadas. Esta reação é espontânea, compreensível e, sob o ponto de vista humano, até justificável; tanto isso é verdade que, no Jardim das Oliveiras, os Apóstolos a puseram em prática.
Com o objetivo de impedir a injustiça, a opressão, a violência, a primeira atitude que tomaram foi recorrer à espada. A frase: "Senhor devemos golpear com a espada?", no texto original, em verdade, não é referida como uma pergunta, mas como uma decisão: "Senhor, agora atacaremos com a espada"! E de fato, sem esperar a opinião do Mestre, um deles entra em ação e corta a orelha direita do servo do sumo sacerdote (Lc 22,49-51). Jesus intervém e censura severamente Pedro por seu gesto precipitado. Em seguida, e este pormenor só nos é relatado por Lucas, preocupa-se com o ferido e o cura. A mensagem deste gesto é transparente: o discípulo não só não pode agredir ninguém, mas tem de estar sempre disposto a curar as feridas provocadas pelos outros. Cura até quem lhe causou o mal e que talvez ainda queira prejudicá-lo.
O cristão "tem adversários", isto é inevitável pois, como o Mestre, deve enfrentar, e às vezes duramente, aqueles que escolhem os caminhos que conduzem à morte, aqueles que deformam o rosto de Deus, aqueles que propõem projetos humanos e sociais inaceitáveis. O cristão, porém, não tem "inimigos". O inimigo é aquele que tem de ser destruído, esmagado, humilhado, eliminado. O adversário não deve ser aniquilado, mas deve poder encontrar apoio para crescer como pessoa, para poder libertar-se das suas escravidões. As armas são usadas por quem tem inimigos que devem ser derrotados, não por quem tem a única missão de transformar os "adversários em irmãos". Lucas é o exemplo do pastor de almas que, embora não justificando o pecado, sabe entendê-lo, tenta atribuí-lo à ignorância, à miséria humana, que nos irmana.
Não dá destaque ao erro cometido, não atira ao rosto de ninguém, pois sabe que quem se sente humilhado e menosprezado, quem não se sente acolhido e aceito, não obstante as suas fraquezas, acaba por isolar-se perigosamente dentro de si mesmo, se decompõe interiormente e impede qualquer brecha para se recuperar. Na narrativa da paixão Lucas cita uma frase que todos os discípulos devem lembrar quando são chamados a suportar injustiças, injúrias, opressões. Lucas é o único evangelista a registrar que Jesus, antes de exalar o último suspiro, ainda tem a energia para dizer: "Pai perdoa-lhes este pecado, porque não sabem o que fazem" (Lc 23,34).
Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.
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