Entramos no mês de agosto, mês vocacional dentro do Ano Sacerdotal instituído pelo Papa Bento XVI, comemorando os 150 anos do aniversário do nascimento de São João Maria Vianney, o santo patrono de todos os sacerdotes. Os ensinamentos e exemplos deste santo podem oferecer a todos um significativo ponto de referência. O Cura d’Ars era humilíssimo, mas consciente de ser, enquanto padre, um dom imenso para o seu povo:

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"Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus, é o maior tesouro que o bom Deus pode conceder a uma paróquia e um dos dons mais preciosos de misericórdia divina". Falava do sacerdócio como se não conseguisse alcançar plenamente a grandeza do dom e da tarefa confiados a uma criatura humana. "Oh como é grande o padre! Se lhe fosse dado compreender-se a si mesmo, morreria... Deus obedece-lhe: ele pronuncia duas palavras e, à sua voz, Nosso Senhor desce do céu e encerra-se numa pequena hóstia". E ao explicar aos seus fiéis a importância dos Sacramentos, dizia: "Sem o Sacramento da Ordem, não teríamos o Senhor. Quem O colocou ali naquele sacrário? O sacerdote. Quem acolheu a vossa alma no primeiro momento do ingresso da vida? O sacerdote. Quem a alimenta para dar força de realizar sua peregrinação? O sacerdote. Quem há de preparar para comparecer diante de Deus, lavando-a pela última vez no sangue de Jesus Cristo? O sacerdote. Sempre o sacerdote. E se esta alma chega a morrer pelo pecado, quem a ressuscitará? Quem lhe restituirá a serenidade e a paz? Ainda o sacerdote.

Depois de Deus, o sacerdote é tudo. "Ele próprio não se entenderá bem a si mesmo, senão no céu". Estas afirmações, nascidas do coração sacerdotal daquele santo pároco, podem parecer excessivas. Nelas, porém, revela-se a sublime consideração em que ele tinha o sacramento do sacerdócio. Parecia subjugado por uma sensação de responsabilidade sem fim: "Se compreendêssemos bem o que um padre é sobre a terra, morreríamos: não de susto, mas de amor. Sem o padre, a morte e paixão de Nosso Senhor não teria servido para nada. É o padre que continua a obra da Redenção sobre a terra. Que aproveita termos uma casa cheia de ouro, senão houver alguém para abrir a porta? O padre possui as chaves dos tesouros celestes: é ele que abre a porta; é o ecônomo do bom Deus; o administrador dos seus bens. Deixai uma paróquia durante vinte anos sem padre, e lá adorar-se-ão as bestas. O padre não é padre para si mesmo, é para vós". O Santo Cura d’Ars ensinava os seus paroquianos sobretudo com o testemunho de vida. Pelo seu exemplo, os fiéis aprendiam a rezar, detendo-se de bom grado diante do sacrário para uma visita a Jesus Eucaristia. Esta educação dos fiéis para a presença eucarística e para a comunhão adquiria uma eficácia muito particular, quando o viam celebrar o Santo Sacrifício Missa. Todos nós sacerdotes, deveríamos sentir que nos tocam pessoalmente as palavras que ele colocava na boca de Cristo:

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"Encarregarei meus ministros de anunciar aos pecadores que estou sempre pronto a recebê-los, que a misericórdia é infinita. No seu tempo, o Cura d’Ars soube transformar o coração e a vida de muitas pessoas, porque conseguiu fazer-lhes sentir o amor misericordioso do Senhor. Também hoje é urgente igual anúncio e testemunho da verdade do Amor. Deus Caritas Est (1Jo4,8). Com a Palavra e os Sacramentos do Senhor Jesus, João Maria Vianney sabia instruir o seu povo, ainda que freqüentemente convencido da sua pessoal inaptidão a ponto de ter desejado diversas vezes subtrair-se às responsabilidades do ministério paroquial de que se sentia indigno. Mas, com exemplar obediência, ficou sempre no seu lugar, porque o consumia a paixão apostólica pela salvação das almas. Procurava aderir totalmente à própria vocação e missão por meio de uma grande ascese.

Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.