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Sempre resisto aos convites de comparar outros países com o Brasil porque eles têm outras histórias, outros lugares e outras pessoas e acabamos concluindo serem tão diferentes que são mesmo incomparáveis.

Porém, nesta semana não resisti ao apelo quase que místico da matéria de Bruma Komarchesqui no Jornal de Londrina e a de Jim Dwyer no New York Times, ambas no mesmo 22/7 falando sobre os rios de suas cidades.

Em Londrina, um estudo de dois anos de duração, realizado em 35 pontos determinou que a qualidade da água em 17% deles era boa, sendo o resto de pouco a muito poluída.

Em Nova Iorque a notícia era de que uma bomba da estação de tratamento de esgoto pegou fogo obrigando o lançamento sem tratamento nos rios da cidade.

No caso norte-americano foram colocados avisos sobre o comprometimento da balneabilidade. No caso brasileiro a suposta falta de balneabilidade é motivo para não fazer o tratamento terciário, que permitiria a própria balneabilidade. Eu explico. Há uma lei exigindo o tratamento terciário somente quando se usa a água para nadar. Estaria a lei e a Sanepar então sugerindo que para conseguirmos tratar nosso esgoto precisaríamos começar a nadar nos rios poluídos?

Antes de cairmos no clichê que somos pobres tupiniquins incomparáveis com os ricos norte-americanos, é bom lembrar que a rede de Londrina foi construída neste século, quando já se conhecia os problemas de unir águas pluviais e servidas na mesma tubulação (a estação de tratamento não dá conta do volume quando chove). O sistema de esgoto de Nova Iorque tem mais de 200 anos.

Neste fim de ano durante uma chuva em São Paulo vi um chafariz de água da chuva mistura com esgoto jorrando a dois metros de altura em uma boca de lobo. A pressão da água era tanta que jorrava pelas frestas da tampa de ferro. Não há estação de esgoto que consiga lidar com isto.

Assim como Londrina, Nova Iorque também tem o seu "João das Águas", nosso "ongueiro" com independência para falar o que deve ser falado. Lá ele se chama John Lipscomb e é responsável pelas amostras de água de um grupo chamado Riverkeeper, o acquametrópole de lá. No entanto, as semelhanças param por aí, porque Mr. Lipscomb tem motivos para otimismo. Ele diz que a catástrofe nova-iorquina servirá para mostrar como era a situação há quatro décadas, antes da construção da estação de tratamento que permitiu que os cidadãos usem suas águas.

Já a situação de Londrina não muda há décadas. O IAP diz que a Sanepar não trata o esgoto e a Sanepar diz que o IAP não fiscaliza o lançamento de esgoto. Dizia um velho amigo que quando duas pessoas brigam, é comum estarem ambas corretas.

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