Na semana passada mostrei como convenções internacionais como a COP10 não gerarão resultados concretos enquanto não existir um governo mundial. Se você não seguir a lei, a polícia te pega. Você seguiria a lei se a polícia precisasse convencer todos seus vizinhos da sua transgressão?
A globalização avançou muito na comunicação e transportes, menos na segurança e ainda menos na segurança ambiental. Em tese, para vender produtos para um país deve-se seguir sua legislação ambiental, mas quem vigia isso? E mesmo vigiando, que medidas caberão se, por exemplo, o arroz exportado não seguiu os preceitos exigidos pelo comprador? Valerá a lei do país onde é produzido ou a do comprador? Ou isso tudo é muito confuso e vale mesmo o bang-bang do mercado?
Em março de 2009, o Financial Times noticiou o primeiro carregamento de arroz produzido nas terras da Arábia Saudita na Etiópia. Repito, não é um grande empresário árabe produzindo arroz na Etiópia. O proprietário e produtor é o país Arábia Saudita.
Longe de um caso isolado, China, Coreia do Sul, Kuwait, Catar e vários outros estão também comprando terras. Produzir comida exige maquinário cada vez mais caro, o que aos poucos vai expulsando os menores do jogo e formando gigantescas unidades de produção agrícola. O problema social é gritante pela redução de empregos e da posse dos meios de produção. Do ponto de vista ambiental, um país faminto da África tem poucas condições de cercear um gigante que aporta em seu território com caminhões, máquinas, aviões e agrônomos.
Muita terra tem sido vendida para estrangeiros também no Brasil. De acordo com o Ministério da Agricultura, 16 usinas da região de Ribeirão Preto são propriedade de grupos estrangeiros e em cinco anos, 40% da produção brasileira de etanol estará nas mãos deles. Em todo o país, foram adquiridos 515,1 mil hectare entre 2007 e 2009.
A consequência ambiental da tomada das terras brasileiras por estrangeiros é uma pergunta aberta. Da mesma forma que grandes grupos costumam ser exploradores ambientais mais ávidos, também são mais suscetíveis à opinião pública. A British Petroleum (BP), por exemplo, está entre os grupos estrangeiros que estão comprando usinas no Brasil e ela anda meio "feia na foto". O problema da opinião pública é que ela é mais sujeita ao marketing do que aos fatos. Cristo e Giordano Bruno que o digam. Soltos para se relacionar diretamente com a opinião pública, não é difícil para as grandes empresas venderem suas versões dos fatos.
Abra a página da BP para ver que maravilha está o Golfo e o bem que eles fizeram para os pescadores da região.