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 | Ilustração: Gilberto Yamamoto
| Foto: Ilustração: Gilberto Yamamoto

Lennon, na ingenuidade canabiótica dos anos 60, pedia que se desse chance à paz. Cada indivíduo deveria fazer amor e não guerra. A filosofia "lennonista" é semelhante às frases de para-barro de caminhão. Religiões alternativas, dirigidas por gurus ébrios com chá mágico receitado por ETs, constituíram comunidades onde não deveria existir predação, dominância, sadismo, vingança. Para eles, pessoas maldosas contaminavam o mundo. Por isso, o foco na mudança individual. Óbvio, o mundo não melhorou por causa desses apelos ao bom coração. À Belchior: John, o tempo andou mexendo com a gente não.

No século 19 se tentou mudar a distribuição dos bens produtivos com a esperança de que em ambiente cooperativo as pessoas se tornassem pacíficas. Nesse raciocínio, o mundo maldoso contamina as pessoas. A Colônia Cecília foi fruto dessa tese e os paranaenses sabem do fracasso. A propriedade comunal da terra e a inexistência de hierarquia não trouxe à lume o bom selvagem rousseauniano. As pessoas continuaram demasiadamente humanas, competindo, ansiando por glória e, até, agressivas por pura maldade.

Os reformadores de pessoas creem na possibilidade de indivíduos progredirem moralmente. Os reformadores da economia acreditam que os humanos não precisam progredir porque são boníssimos por natureza, bastando eliminar a desigualdade econômica para extinguir a violência. Os chamamentos religiosos ou laicos à elevação moral existem desde sempre e não consta que tenha havido melhora uma geração após a outra. Se assim fosse, o mundo não precisaria mais de pregação religiosa ou ética. Quanto aos comunistas, sociedades artificiais ainda remanescem (Cuba, Coreia do Norte) e não se detectou sinais do "bom selvagem" na terceira geração de quem viveu em igualdade econômica.

Estamos condenados ao mal? Paradisíaco o mundo nunca será, mas a violência física está diminuindo segundo Steven Pinker, nas mil páginas intituladas Os Anjos Bons da Nossa Natureza. A primeira reação é dizer que isso é bobagem porque todo dia na tevê farto noticiário, acompanhado de imagens das câmeras de segurança, narra estupros, roubos, homicídios. Porém, dê uma chance à paz e continue a leitura para conhecer os argumentos e depois, se entender refutáveis, contra-argumentar.

Pinker afirma que houve redução da violência na família, país, mundo e que essa diminuição não ocorreu por aprimoramento moral, vitória do justo sobre o iníquo, do bem sobre o mal. Para ele, artifícios civilizatórios – instituições – fazem da tendência de queda da violência uma constante observável por estatística. É fato susceptível a tratamento científico, isto é, passível de explicação como "mudança na tecnologia, no modo de governar, no comércio ou no conhecimento".

A principal queda da violência ocorreu com o desenvolvimento da agricultura. Dados apontam diminuição em 80% na quantidade de homicídios. Depois, povos que formaram governos estáveis acentuaram essa mitigação. Até as guerras modernas matam menos que as antigas.

Os reformadores da economia estavam mais perto da resposta que os de pessoas, visto que os humanos, individualmente considerados são sempre os mesmos (angelicais e diabólicos). Suma da obra: a natureza humana é fixa e as transformações ambientais destinadas à pacificação não devem desconsiderá-la.

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