| Foto: Gilberto Yamamoto

O mundo desabando como sempre e, súbito, surge polêmica deliciosa sobre o comercial de lingerie estrelado por Gisele Bündchen no qual ela ensina como as mulheres devem estar (des)vestidas quando forem ter palavrinha com o marido sobre a última batida do carro. O soutien e a calcinha da gaúcha cosmopolita são comportados, até meio caretas e o corpo faz movimento lateral para disfarçar as linhas retas como tábua. Em suma, nenhum apelo erótico, apenas a ideia de que a mulher deve usar sensualidade para quebrar a resistência do maridão ante notícia desagradável.

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A ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres (mais um desses ministérios que é mistério) desensarilhou armas para iniciar guerra contra a propaganda, dizendo que ela promove o estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual do marido e ignora os avanços para "desconstruir" práticas e pensamentos sexistas. Além disso, é discriminatório contra a mulher.

A liça é, tipicamente, do politicamente correto contra o corriqueiro, a vida normal. Atire a primeira pedra quem nunca fez biquinho, charminho para adoçar a conversa com o parceiro afetivo, seja ele ficante, namorante, esposante, quiçá, ex-pousante. Mulheres e homens fazem uso dos meios de que dispõem para seduzir o cônjuge e facilitar o relacionamento. A condição de cônjuge existe porque há afeto que também se expressa por sensualidade e erotismo. Ama-se pai, mãe, filhos, tios, sobrinhos, amigos, mas ninguém se encharca de perfume para contar a um deles que bateu o carro que pegou emprestado.

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E se a propaganda exibisse um bonitão em traje sumário dizendo à patroa que esqueceu de levantar a tampa do vaso? Homem objeto? Abjeto? Homem normal, buscando delicadamente o perdão, em oposição ao boçal que imporia sua rudeza.

A propaganda veicula, a rigor, a ideia de que os eventuais dissensos entre os casal podem ser abrandados apelando-se para a sedução ativadora de emoções de aproximação. Para resolver a brabeza resultante dos danos no carro marido e mulher não precisam discutir como militantes de partido ou partes em litígio judicial; podem falar pouco e se amar muito.

Falar, falar é coisa do assembleísmo típico de quem se casa com o partido. Nesse locus o plenário, não a cama, resolve a divergência. Imputar ao comercial a pecha de retrógrado porque sugere a paixão ao invés do debate loquaz é estender o modus vivendi de uns poucos aficionados pela militância partidária como razão de viver para a maioria das pessoas que só deseja ser feliz.

Os avanços obtidos na consideração de homens e mulheres como iguais na seara política e jurídica não tornam justa a supressão da sensualidade amorosa de um casal. A seguir ao extremo a linha de raciocínio da ministra, o casamento politicamente correto implicará protocolos reguladores da vida sensual e emocional. Talvez até a edição de código de ética do marido e da esposa, assinado e registrado em cartório. Não, isso não! É preciso deixar os hormônios fluírem enquanto se dispõem deles.

Parodiando Vinícius, as brutas que me perdoem, mas sensualidade é fundamental.

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