| Foto: Gilberto Yamamoto

Palavras de ordem que fizeram a Revolução Francesa e movimentaram os séculos seguintes com sonhos e pesadelos. Ditaduras, democracias, socialismo e capitalismo construídos e demolidos pelas ideias veiculadas por cada palavra e pelo conjunto delas. A política ligada à atividade estatal nunca mais entrou em repouso. Nenhum tirano teve sossego. Ocorre, essas ideias avançaram também sobre a vida privada e o modo de viver a relação entre homens e mulheres, genitores e prole, vizinhos, amigos, se modificou e continua em ebulição. A privacidade e intimidade, revolucionadas.

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Soutiens queimados em praça pública; Leila Diniz, grávida, à praia de biquíni. Mulheres, maioria nas salas de aula das universidades e espaços políticos no Executivo, Legislativo e Judiciário sem que haja estrépito. Cabeças de casal, chefes de família uniparental; mulheres guiando carro, país, empresas. Liberdade e igualdade fizeram a revolução feminina. Não mera permissão masculina; mudança na postura feminina, ao decidir viver como pessoa plena e não subpessoa. A liberdade para pensar e agir conforme as preferências pessoais sem o mando do pai, marido, irmão, foi politicamente construída e juridicamente consolidada. Idem para a igualdade. É de se dizer que a última escravidão no Ocidente foi a da mulher.

Da tríade, não olvidei a fraternidade. Ela é reforço retórico de duas construções institucionais, a liberdade e igualdade. Experiência quase religiosa, tão etérea que sequer encontrou senda para circular na realidade, a fraternidade é afeição de construção individual, nunca coletiva. É possível ser livre e igual sem afeto. Impossível fraternidade sem amor, algo pessoal, não institucional. Pois bem, as coisas ficaram melhores ou apenas diferentes do que eram?

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Ao ímpeto de dizer que houve melhora se opõe a sensação de que aos relacionamentos calcados na liberdade e igualdade falta alguma coisa. São melhores que os casamentos arranjados, de submissão e dependência irrestrita ao varão. Contudo, não basta ter renda, patrimônio próprios. A liberdade e igualdade foram conquistadas para tornar a vida mais agradável para ambos os cônjuges. A independência da mulher não se destina à repetição da postura machista do "faço o que eu quero porque o dinheiro é meu". Não é vida conjugal aquela medida em cifrões de um lado ou do outro.

Para alcançar patamar superior, a revolução feminina – que também modificou a conduta masculina – precisa combinar liberdade, igualdade e sensualidade. A expressão da fraternidade entre casais é a sensualidade, a manifestação do amor em paixão. Observando casais modernos se percebe temor à sensualidade, como se a pessoa apaixonada perdesse a liberdade e se tornasse inferior, subordinada. O afloramento da sensualidade inibe a liberdade e igualdade?

A sensualidade sói ser confundida com sexo. Diz a Rita Lee, bossa nova e carnaval. A melodia suave da bossa dá o compasso para o plus da sensualidade à revolução do prazer de relações conjugais por coordenação, não por subordinação. Vive la sensualité!