O Ultraje a Rigor, ao cantar na Virada Cultural, ofereceu a música Rebelde sem Causa aos estudantes que ocupavam a Reitoria da USP. A letra fala de filhinho de papai e mamãe que tem grana, carro, guitarra e reclama porque precisa de algo para se rebelar. Roger, o vocalista da banda, expressou a indagação do Brasil: por que alguns estudantes invadiram o prédio da direção da Universidade?
A cata da resposta, é o caso de lembrar do movimento estudantil na ditadura Vargas, nos anos cinquenta e sob o regime militar. A Universidade do Paraná, primeira a reunir número expressivo de alunos, inaugurou a atividade política discente com a criação do Centro Acadêmico Hugo Simas, da Faculdade de Direito, em 1931. A Revolução de 30 foi o último grande acontecimento político sem participação significativa de estudantes. Em 1932, na Revolução Constitucionalista, os discentes da Universidade de São Paulo tiveram protagonismo destacado. MMDC (grupo de ação política que detonou a revolta paulista) é acrônimo do nome dos estudantes mortos pelos partidários de Getúlio. Estudantes se alistaram ao lado dos constitucionalistas pedindo a convocação da Constituinte e a normalidade democrática.
No início dos ano 40, em plena censura e repressão do Estado Novo, a União Nacional dos Estudantes faz mobilização pela entrada do Brasil na Segunda Guerra contra a Alemanha e Itália, por quem Getúlio tinha aberta simpatia. Dez anos depois, estudantes foram às ruas na campanha pela criação da Petrobras.
Em março de 1964, a UNE era presidida por José Serra. Os 13 anos de exílio dão a medida da importância dos estudantes no cenário político. A defesa da democracia passou a ser mobilizadora do estudantado. O fechamento das entidades estudantis, a perseguição a quem ousasse fazer política, não silenciaram as vozes. É simples de entender: ao estudar, ilumina-se o entendimento. Com as luzes, impossível calar diante das sombras da tirania.
Até a convocação da Constituinte em 1986, grandes debates incendiavam os congressos de estudantes. Com a promulgação da Constituição em 1988, a política voltou ao leito ordinário da liça dos partidos em plenários do Legislativo. A democracia estável é tediosa de tão monótona. Com isso, o movimento estudantil refluiu para atividades acadêmicas. O esquerdismo, infantil e fóssil, que invadiu as universidades públicas não percebeu os acontecimentos e, estacionado no cisma entre Stalin e Trotski, filiou-se ao partido só para contrariar, o PSPC. Fazendo política como fanáticos religiosos, inventam motivos para justificar a peculiar opção ideológica.
A democracia não proíbe passeatas e manifestações; todavia, os mecanismos democráticos de solução do dissenso as fazem quase desnecessárias. Mas, qual o glamour de fazer política sem atos retumbantes? Drogaditos na adrenalina da tensão política, criam caso como criança birrenta querendo chocolate no caixa do mercado. Politicamente pueris; juridicamente adultos para responder pelos danos que causaram.
A causa da democracia exige suavidade nos modos e firmeza na ação educativa. É danoso à democracia perdoá-los como se fossem crianças mimadas.
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