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Friedmann Wendpap

Terror disfuncional

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O maluco do mal que espalhou sofrimento na Noruega, pretextando chamar atenção para sua opinião política, deixou páginas de sandices científicas e ideológicas. Dentre elas, a afirmação de que o Brasil, em razão da mistura de raças, é disfuncional, cheio de corrupção, baixa produtividade e conflitos culturais. O doido atribuiu a miscigenação a uma suposta "revolução marxista brasileira". Essas bobagens seriam cômicas, não fossem trágicas porque o palhaço atirou no público que não se interessava pelo seu circo.

Diga-se, há gente que pensa haver suporte científico para a eugenia, acreditando que a purificação racial é imprescindível para o desenvolvimento econômico e cultural. Esses sábios de almanaque não mudam de opinião nem quando são compelidos a levar o cachorro de raça pura ao veterinário porque o bichinho sofre de reumatismo, cegueira, problemas pulmonares. O vira-lata come restos do almoço da semana passada e sai feliz da vida; o cão puríssimo sofre indigestão com mudança sutil na ração. O puro é fraco; o impuro, forte.

Qual a razão para evitar a extinção de espécies e variedades de animais que aos olhos leigos são até meio asquerosos, tais como sapos, rãs, cobras e lagartos? A resposta está na diversidade genética. Quanto maior a diversidade genética, mais forte é um ecossistema, maior a possibilidade de resistência a doenças, predadores e a eventos climáticos adversos. Estendendo a ideia para o indivíduo canino, ele também é um "microbioma" no qual se alojam genes. O vira-lata tem alta diversidade genética e o labrador puríssimo, baixa diversidade. Diante das variações ambientais e conjunturais, a resistência e a fragilidade saltam aos olhos.

Se a miscigenação racial fosse a causa das nossas mazelas, sería­­mos o pior lugar do mundo para viver. A irrelevância das fronteiras de aparência racial para definir vínculos afetivos entre os brasileiros é uma das nossas grandes riquezas. Fa­­zemos amigos, namoramos, casamos, recasamos com a paleta da aquarela misturando as tintas. A brasilidade, não a fenotipia, nos une. As muitas religiões aqui professadas são sincréticas. Nada é puro abaixo do equador.

Somos fisicamente variados, temos ideias diferentes, lutamos, muitas vezes, por causas opostas, mas fazemos funcionar um país gigante. Há distâncias sociais que dão a sensação de haver vários Brasis: um com 30 milhões habitantes no qual se vive com padrão próximo à média europeia, outro de 100 milhões, com padrão semelhante ao da Argentina e, por fim, 60 milhões de pessoas que vivem como se estivessem na Bolívia. Não é maravilhoso, mas existe dinâmica de redução da pobreza, cujas causas assentam em fatores múltiplos, nenhum dos quais atine com a miscigenação.

A questão de fundo é a diversidade. A vida orgânica se fortalece na diversidade; a cultural, idem. Os terroristas têm fobia à pluralidade decorrente da liberdade. Aterrorizam para impor o seu pensamento como o único politicamente correto. Se vitoriosos, são o túmulo da democracia.

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