Quem estuda a vida dos santos logo descobre um fato curioso: cada homem ou mulher de Deus reinventa a santidade. Isso porque existem muitas maneiras de imitar a Cristo.

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Depois de vencer adversários temíveis, entre eles o comunismo soviético e a teologia marxista, João Paulo II optou pelo martírio. O papa polonês, que será canonizado em 2013, agonizou aos olhos do mundo inteiro. Todos vimos a sua cruz – e nela encontramos a certeza de que o sofrimento tem um sentido eterno.

Alguém já disse que o primeiro milagre de João Paulo II foi a eleição de Bento XVI, seu amigo e conselheiro intelectual Joseph Ratzinger. Os dois homens, sucessores de Pedro, esse irascível e imperfeito Pedro, lutaram as mesmas lutas e sofreram as mesmas dores em nome da Igreja. Ao sentir a aproximação da morte, o papa alemão preferiu imitar a Cristo de outra forma: na humildade. Depois de ter sido uma das mais importantes vozes proféticas de nosso tempo, Bento XVI optou pelo silêncio e pelo recolhimento. A partir da Páscoa, a barca de Pedro será conduzida por outro homem.

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Embora o papa já tivesse aventado a hipótese, a humanidade se surpreendeu com a renúncia. Em nossos tempos de egoísmo arrogante, abdicar ao poder parece um gesto de loucura e fraqueza. Mas lembremos as palavras de um Paulo que não foi papa: "Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte" (2 Coríntios 12, 10).

Quando estudamos os clássicos, percebemos que neles nada é gratuito. Nas grandes obras, até as vírgulas possuem um sentido dentro da narrativa. O mesmo se dá com a vida dos grandes homens de Deus. Não foi por acaso ou coincidência que Bento XVI anunciou sua renúncia pouco antes da Quaresma. Basta ler as palavras do Papa durante a sua audiência na última Quarta-Feira de Cinzas: "O deserto, para onde Jesus se retira, é o lugar do silêncio, da pobreza, onde o homem é privado dos apoios materiais e se encontra diante das questões fundamentais da existência, é convidado a ir ao essencial, e por isso lhe é mais fácil encontrar a Deus".

É para lá que Bento XVI irá depois da Páscoa: esperam-no a solidão e o silêncio da clausura. Daqui a 40 dias, o Papa será um monge de 86 anos dedicado às suas conversas com o Criador.

A cena do papa convertido em monge lembra-me os versos de Quarta-Feira de Cinzas, de T. S. Eliot: "Alegro-me de serem as coisas o que são / E renuncio à face abençoada / E renuncio à voz / Porque esperar não posso mais".

Aí está o significado profundo do que aconteceu. Meu amigo, meu inimigo, meu desconhecido leitor: é preciso que também renunciemos. A salvação não pode esperar.

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