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Paulo Briguet

Maravilha

Maravilha. Foi com essa palavra que o padrasto do menino Joaquim recebeu a notícia de que haviam encontrado o corpo da criança. Não sei se o homem é culpado ou não pela morte do menino, mas de uma coisa tenho certeza: o uso do termo naquela hora trágica revela uma assustadora frieza de alma e configura uma síntese dos tempos atuais.

Pelo dicionário, a palavra "maravilha", em sua primeira acepção, quer dizer "coisa ou fato surpreendente, assombroso, extraordinário". Nesse sentido, até o Gulag pode ser maravilhoso. Mas, na linguagem contemporânea, a palavra assumiu uma qualidade positiva, servindo para designar coisas belas, intensas e próximas à perfeição. Portanto, "maravilha" talvez seja a pior palavra que se possa pronunciar diante da morte de uma criança de 3 anos.

Não sou linguista, mas imagino que "maravilha" e "milagre" tenham uma raiz comum. Ambas vêm do latim: maravilha é mirabilia; milagre, miraculum. A maravilha de nosso tempo é uma espécie de milagre às avessas, um ato surpreendente operado pelo príncipe da mentira.

Quando um homem diz "maravilha" ao ouvir a notícia de que seu enteado está morto, não restam mais dúvidas: o mal está solto no mundo. Minha reação, ao ouvir aquele desastroso comentário no telejornal, foi a de pedir perdão a Deus. Talvez um dia eu tenha estado perto de dizer a mesma palavra diante de uma atrocidade. É bem provável que um dia, caminhando à saída de uma clínica, eu tenha sorrido – de nervosismo, mas e daí? – depois de cometer o pior dos atos.

As aberrações verbais se multiplicam por toda parte, mas não existem de maneira isolada. Se as pessoas não conseguem expressar o que estão sentindo, certamente não conseguem sentir o que expressam. Para saber falar, é preciso saber pensar e ser capaz de emoções autênticas. Se um homem diz algo absurdo, isso pode ser resultado de uma confusão mental passageira. Se um homem continua dizendo absurdos ao longo do tempo, o caos muito provavelmente se instalou em seu espírito.

Bento XVI afirma que a grande doença de nosso tempo é o relativismo moral. Essa enfermidade coletiva resulta de uma separação radical entre a beleza, a justiça e a verdade. O bom, o belo e o veraz não caminham mais juntos; às vezes são inimigos mortais. Na sua genial Ode a uma urna grega, John Keats define: "Beleza é verdade, verdade é beleza – eis tudo que sabeis aqui, e tudo que precisais saber". Em nosso tempo, um homem de olhar perdido responde sem emoção: "Maravilha".

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