• Carregando...

Menina, ó pequena menina, um dia saberás o que aconteceu pouco antes do teu nascimento. O parto já estava marcado para daí a uma semana, mas um fato que ninguém esperava antecipou a tua chegada ao mundo. Tua mãe, ao contrário de tantas mães que não deixam nascerem os filhos, acabou por ir embora enquanto surgias. Durante algumas horas, tu e ela, mãe e filha, estiveram no mesmo mundo. Curta convivência para um amor impossível de medir: ela na UTI, tu na incubadora. Ambas na vida.

Menina, ó doce menina, quando encontraram tua mãe, ela estava curvada sobre si mesma, numa atitude de proteção. Nunca te esqueças do que ela fez. Nunca te esqueças do que ela faria – se não tivesse encontrado aquele assaltante no caminho. Às vezes eu penso: quanto ódio é necessário caber dentro de uma alma para fazer o que ele fez? A natureza do mal continua sem explicação; um dia, não neste mundo, entenderemos tão grande mistério.

Menina, ó amada menina, onde está a tua mãe? Para onde foi aquela que partiu em um janeiro triste, dias depois da visita dos magos? De onde ela contemplará teus primeiros passos, tuas primeiras palavras, teus dias e noites? Não sei onde ela está, menina, mas sei que tem os olhos postos em ti. E canta uma canção de ninar: se prestares atenção, ouvirás a voz no meio do vento, no instante de silêncio.

Menina, ó delicada menina, não sintas medo. Quando Nossa Senhora de Guadalupe apareceu ao índio Juan Diego, em 1531, disse, para acalmá-lo: "Acaso aqui não estou eu, que sou tua Mãe?" A presença materna estará sempre ao teu lado, sob as mais diversas formas: o carinho do teu pai, a atenção de teus avós, o zelo de teus parentes, a afeição de teus amigos, a face do Criador. As coisas mais importantes do mundo são invisíveis. Tua mãe é.

Menina, ó simples menina, tua mãe estará no idioma que falares, na terra que pisares, na dor que sofreres. Na alegria sem explicação, na angústia dos fins de tarde, no sonho que te acordará de madrugada – aí tua mãe está. Tua mãe está na cena de um filme, na página de um livro, na voz de um violoncelo. Tua mãe estará nos olhos e mãos e corações daqueles que hoje vivem graças a ela. Tua mãe esteve, tua mãe estará, tua mãe está. Se prestares bem atenção, verás a face de tua mãe no olho da estrela-guia, na adoração dos pastores, no caminho que os amigos refizeram ao voltar para suas nações. Tua mãe vive na própria ideia de Mãe. Tua mãe é a presença do amor – mesmo nestas modestas palavras de um cronista que jamais a viu.

Mulher, eis a tua filha. Menina, eis a tua mãe.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]