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Paulo Briguet

Elogio ao lenço

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Acho que sou o último homem da minha geração que usa lenço. Quando menciono a alguém esse hábito, o comentário geralmente é: "Meu pai também usa lenço". No caso dos mais jovens, a resposta pula uma geração: "Meu avô também usa". Ainda não encontrei ninguém que indicasse o uso de lenço por parte do bisavô, e isso porque o óbvio não costuma ser dito: supõe-se que todos os bisavôs usassem lenço, como usavam chapéu.

O fato de usar lenço torna-me, pois, um ser antiquado, anacrônico, obsoleto. Um trocadilhista infame diria que eu sou "obsolenço" – e, como eu sou um trocadilhista infame, digo-o aqui. Obsolenço: registre-se o neologismo nos cadernos da infâmia.

Não pensem, meus caros sete leitores, que usar lenço é um hábito adquirido depois dos 40 anos. Adotei os lenços de pano aos 16 – logo que tive minha primeira crise depressiva. O lenço passou a ser, portanto, um autêntico símbolo de apoio diante da minha precariedade. O símbolo vem a ser exatamente isto: indica a existência de algo e, ao mesmo tempo, participa dessa existência. O lenço acenado numa estação de trem representa o adeus e também é o próprio adeus.

A escritora romena Herta Müller, ganhadora do Nobel de Literatura em 2009, lembra que sua mãe lhe perguntava todos os dias, no portão de casa: "Você pegou um lenço?" A pergunta, escreve Herta, era um carinho indireto. "Um carinho direto seria constrangedor, os camponeses não são assim. O amor se disfarçou em pergunta."

Ao ser interrogada pela polícia secreta romena – a temida Securitate, do ditador comunista Nicolae Ceausescu –, a mãe de Herta Müller levou consigo um lenço. A velha camponesa ficou detida sozinha em um escritório da Securitate por muitas horas; sem nada a fazer, resolveu limpar o chão do cárcere com o lenço e um balde de água encontrado ali. Quando a filha lhe perguntou por que fizera isso, a mulher respondeu: "Procurei um trabalho que fizesse o tempo passar. E o chão estava tão sujo".

O lenço tem utilidade universal. Esse pequeno objeto quadrangular de pano faz várias coisas: seca a lágrima, seca o suor, estanca o ferimento, dá adeus, limpa a sujeira, oculta o sofrimento, marca o compromisso (se lhe damos um nó), pede a paz (se agitado na trincheira), cobre piedosamente a face do homem que morreu na calçada. Verônica enxugou o rosto de Jesus, como vemos na sexta estação da Via-Sacra: o sangue e o suor se eternizaram numa face eterna. Todas as funções do lenço se relacionam com o que há de importante na vida: amor, dor, trabalho, luta, solidão, humildade, vergonha, morte.

Carrego um lenço como quem leva uma presença na falta. Ele é um substituto da mão amada. É a mão de minha mãe. É a mão de meu pai. É a mão da Vó Maria. É a mão do Vô Briguet. Por isso, costumo passar alguns perfumes em meus lenços – o perfume que minha mãe me deu, a loção que lembra meu pai, a colônia preferida de minha avó. Ao sentir esses cheiros, tenho a ilusão de que os ausentes estão mais próximos de mim. O olfato é o sentido humano mais próximo da memória e da saudade.

Outro dia sonhei que estava lendo um livro de lenços. Eles contavam uma longa história. De repente, notei que os personagens da história eram todos velhos conhecidos; havia suor, sangue, lágrima e solidão nos acontecimentos narrados. Acordei, acendi a luz e vi um lenço azul dobrado na cabeceira da cama. O amor se disfarçou em lenço: era o meu presente de Natal.

Interino – O colunista Luís Fernando Verissimo excepcionalmente não publica coluna nesta quinta-feira

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