Há muitos e muitos anos, em um reino distante da Universidade de São Paulo, um energético aluno chamado Efraim, ansioso por fazer sua carreira andar, ouvia um colega falar que quanto mais você deseja algo, mais ele se afasta de você um tema central da filosofia budista. Aquilo não fazia o menor sentido para mim.
Passados "alguns" anos, agora é a minha vez de dizer que o caminho para o desenvolvimento é o decrescimento. Se você não gosta desta ideia, tente, então, pensar no oposto. É possível crescer para sempre?
Poderia provar para você o absurdo que é o crescimento eterno usando a Segunda Lei da Termodinâmica, mas é muito mais divertido ver o vídeo de um hamster que cresce sem parar até seu primeiro aniversário (veja o link em meu blog: http://bit.ly/T4rXVg). Todos os grãos produzidos em um ano não seriam suficientes para alimentar este animal absurdo por um único dia.
Decrescimento não é declínio e Detroit não é um símbolo deste movimento muito pelo contrário. A atual penúria norte-americana e europeia é resultado de um crescimento além da capacidade do sistema. O decrescimento nos oferece a possibilidade de compatibilizar a oferta e demanda de recursos de maneira controlada, antes que a água e as espécies acabem e o clima enlouqueça. Será coincidência que os países mais desenvolvidos são aqueles atualmente com maior desemprego?
Em algum canto de nossa cabeça achamos que nosso consumo pode crescer da mesma forma como a população cresceu até aqui. Há matéria prima para 7 bilhões de gramados, de casas de 300 m2 e de carros?
Ouço muito a palavra "sacrifício" quando se fala em abster-se de consumir. Sem essa. Sacrificado é trabalhar para poder ficar carregando sacola de compras e depois arcar com o peso de tanta porcaria em casa. Desperdiçar uma vida de trabalho para que, depois de morrermos, nossos filhos encham caçambas com bugigangas. Também deixamos de herança para eles um mundo mais estragado.
Não há sacrifício em reduzir o consumo, vencer alguns desafios cotidianos por meio de trabalho físico e dar alguns passos para cultivar o próprio alimento. Não há moradia no mundo onde não caiba um saquinho de leite com um pé de tomate. Pelo contrário, estas pequenas coisas são fontes de prazer. Talvez seja mais fácil falar em decrescimento se o associarmos com a ideia de ter mais prazer com menos.
Mais nirvana e menos sansara. Os budistas já disseram isto há milênios. Não escutamos porque, para quase todos nós, não faz o menor sentido.
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