Já escrevi mais de uma coluna sobre recordes de desmatamento na Amazônia, e esta será mais uma. A novidade é que o recorde desta vez é de mínimo.

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Tão importante quanto o resultado (já falaremos dele) é o trabalho para chegar a ele. O desmatamento é medido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) desde 1988. No começo, o governo não gostou nada dos resultados e criou-se uma grande polêmica entre o próprio Inpe, o professor Philip Fearnside, a Embrapa e o governo, na época presidido por José Sarney. Ao longo dos anos o Inpe conseguiu construir uma independência do governo, mesmo sendo parte dele. Os números do desmatamento são motivo de enorme discussão, mas sua credibilidade é consenso. Nunca ouvi uma crítica a eles.

A partir de 2004 o Inpe passou a publicar dados mensais preliminares, o sistema Deter, tanto para tornar rapidamente conhecida a posição dos possíveis desmatamentos como para acelerar ações policiais. Esta foi outra ação corajosa do Inpe, porque a Amazônia passa boa parte do ano coberta por nuvens, sendo impossível enxergar o que acontece debaixo delas. Mas neste caso os ganhos são muito maiores que as perdas.

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Como dizia, o desmatamento divulgado nesta semana é o mais baixo desde o início da medição, ao redor de um sexto do pico de 2004 (coloquei o gráfico no meu blog para você acompanhar: http://bit.ly/T4rXVg). Dias depois de saírem os dados do recorde (o de 2004, não o de 2012), eu estava em um avião quando entrou a figura levitante da então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. A conversa girou ao redor da inércia do desmatamento. As ações corretas levam anos para mostrar resultados.

Deixarei para você o trabalho de sobrepor a evolução do desmatamento com as gestões Sarney, FHC e Lula, além da situação econômica mundial. De acordo com a afeição política, você pode aumentar ou diminuir a importância deste ou daquele para chegar ao resultado esperado. O que felizmente está acima do viés político é que, afinal, temos números confiáveis, dizendo que o desmatamento agregado se reduz há oito anos, apesar de ter aumentado em um ou outro estado. Como grande parte de nossa emissão de gás carbônico é por desmatamento, a notícia é tão boa para a floresta quanto para o clima global.

A outra boa notícia é que a gigantesca redução de emissão que estes números implicam podem, afinal, fazer que algo se mova na boca livre anual do clima, que ora ocorre no Catar. Quem sabe não será a próxima coluna a primeira sobre algum mísero resultado concreto das negociações sobre o clima?