O governo manteve um discreto silêncio, mas o PT e a blogosfera chapa-branca comemoraram o fato de as manifestações de 12 de abril não terem levado às ruas tantas pessoas quanto as de 15 de março. O site do partido chegou a publicar um texto afirmando que “os protestos minguavam nas ruas” enquanto um tuitaço de apoio à presidente Dilma Rousseff conseguia destaque nos trending topics mundiais, preferindo enfatizar o mundo virtual e ignorar o mundo real.

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Para usar uma das analogias futebolísticas tão ao gosto do ex-presidente Lula, foi como se um torcedor da seleção brasileira festejasse a derrota para a Holanda por 3 a zero na disputa pelo terceiro lugar da Copa do Mundo de 2014; afinal, o saldo negativo caiu pela metade na comparação com os 7 a 1 da semifinal contra a Alemanha. Como a própria Gazeta do Povo afirmou já no domingo, ainda que os protestos fossem menores, já teriam superado em muito qualquer das mobilizações recentes de apoio ao governo.

Mas ainda é possível fazer comparações com outros movimentos significativos. Os 40 mil que foram às ruas em Curitiba no dia 12, por exemplo, superaram qualquer uma das passeatas de junho de 2013 (que, no seu auge, reuniram cerca de 10 mil pessoas) e o Dia do Basta, em 2010, quando cerca de 15 mil pessoas estiveram na Boca Maldita pedindo a moralização da política paranaense, após a divulgação do escândalo dos Diários Secretos. Em São Paulo, a maior das passeatas de 2013 reuniu 100 mil manifestantes, bem abaixo dos 275 mil que estiveram na Avenida Paulista no domingo passado.

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Não se pode descartar o fato de que, no intervalo entre as duas manifestações, a resposta de Brasília foi pífia

O fato é que as manifestações do dia 12 reuniram, sim, um número significativo de pessoas, que só empalidece na comparação com a presença no 15 de março porque o público daquela ocasião superou qualquer prognóstico, mesmo o mais otimista. Se houve frustração com o número em si, um dos motivos foi o fato de os organizadores terem investido maciçamente no slogan “vai ser maior”, criando uma expectativa que não se cumpriu.

Também não se pode descartar o fato de que, no intervalo entre as duas manifestações, a resposta de Brasília foi pífia. Não falamos de uma eventual reação do Planalto; parece-nos inverossímil que os manifestantes confiassem que o governo lhes estendesse a mão e buscasse o diálogo, pois nada que Dilma e sua equipe tenham feito no passado alimentaria tal esperança. A resposta que não veio foi aquela da oposição no Congresso Nacional, que permanece letárgica. Em 2013, ficou muito claro que a população que foi às ruas rejeitava a partidarização das passeatas, e desta vez os políticos (com uma ou outra exceção), escaldados pela experiência de dois anos atrás, têm evitado aparecer nos protestos. Mas isso não significa que, em seu ambiente específico de atuação, os parlamentares não pudessem oferecer o combustível que levaria ainda mais pessoas às ruas. Isso, no entanto, não aconteceu.

É tentador usar as pesquisas de opinião como comprovação inequívoca da insatisfação popular. Dados do instituto Datafolha divulgados no fim de semana passado mostraram que, entre os entrevistados, 63% – ou seja, quase dois terços – disseram que o Congresso deveria abrir um processo de impeachment contra Dilma; 57% afirmaram que a presidente sabia da corrupção na Petrobras e, mesmo assim, deixou que ela ocorresse; 75% manifestaram apoio aos protestos. A popularidade da presidente parou de cair, mas está em patamares que deveriam preocupar o Planalto: apenas 13% consideram o governo Dilma “ótimo” ou “bom”, enquanto 60% o consideram “ruim” ou “péssimo”, uma rejeição que, segundo o Datafolha, está pulverizada, predominando em todos os segmentos de renda e escolaridade. Pesquisas, no entanto, são retratos do momento em que são feitas, e sabe-se muito bem que qualquer novidade positiva, como uma melhora nos indicadores econômicos, pode alterar a opinião popular.

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O que independe da percepção do momento demonstrada pelas pesquisas é o trabalho das manifestações como maneira de “acordar” a população para o modo como o PT vem conduzindo o Brasil: o uso da máquina estatal a serviço do partido, o alinhamento incondicional a lideranças antidemocráticas latino-americanas, a leniência para com movimentos sociais cujo modus operandi é o desrespeito contumaz a direitos dos cidadãos. Por mais que no momento os organizadores tenham alterado a estratégia e decidido que priorizarão a pressão sobre parlamentares de oposição, o trabalho de conscientização levado a cabo pelos manifestantes permite concluir – assim como fez Mark Twain ao ser abordado por um jornalista que imaginava que o escritor estivesse à beira da morte – que quaisquer rumores sobre o fim do movimento de 15 de março e 12 de abril são um exagero.