Se afastada definitivamente pelo Senado, Dilma Rousseff será poupada de lidar com o problema mais dramático criado por sua ingerência desastrosa na economia. O crescimento do desemprego não dá sinais de que vai dar trégua tão cedo, mesmo que a recuperação da economia comece ainda neste segundo semestre – condição que ainda não foi assegurada pelo governo interino de Michel Temer.
A taxa de desemprego no trimestre encerrado em junho, segundo o IBGE, chegou a 11,3%, quase o dobro dos 6,4% registrados no início de 2014. Analistas estimam que ela passará de 13% até o fim do ano, em um movimento que colocaria mais 1,5 milhão de pessoas na fila por uma vaga de trabalho. Hoje, 11,6 milhões de pessoas declaram estar procurando emprego.
A maior desocupação é um problema com efeito em cascata. Ela é acompanhada por uma retração na renda média do trabalho, em um ciclo inverso ao que propiciou o crescimento do consumo nos 12 anos anteriores à recessão. Isso significa na prática a um recuo na qualidade geral de vida da população.
O governo Temer tem pouco espaço para erro. Se abrir mão de prioridades, como a criação do teto para o gasto e a reforma da Previdência, em nome de uma composição política mais confortável, aumentará o tempo para a normalização da vida de milhões de famílias que hoje convivem com o desemprego
Levantamento feito por economistas do Insper revela também que o desemprego aumentou mais entre os trabalhadores com mais de dois anos nas empresas, grupo que concentra chefes de família. Em consequência disso, mais jovens estão se vendo forçados a também procurarem uma vaga, em uma tendência que pode afetar a evolução na escolaridade caso eles desistam de estudar para ajudar no orçamento doméstico.
O lado mais irônico da escalada do desemprego é sua ligação com os erros de política econômica liderados por um partido que subiu ao poder tendo como plataforma a criação de empregos. Nas eleições de 2002, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu a criação de 10 milhões de vagas de trabalho. Nos seis primeiros anos de seu governo, a manutenção dos fundamentos econômicos, aliada ao boom na exportação de commodities, permitiu que o mercado de trabalho formal de fato absorvesse milhões de brasileiros.
O aprofundamento de políticas intervencionistas, iniciadas no segundo mandato de Lula e levadas adiante por Dilma, interrompeu esse momento de estabilidade e está agora cobrando seu preço. O desleixo com o cumprimento da meta de inflação, a concessão de benefícios setoriais com pouco retorno econômico e a corrosão irresponsável da situação fiscal do Brasil tiveram como efeito uma recessão sem precedentes. A criação de empregos agora depende do retorno do bom funcionamento da economia .
Está nas mãos do governo Temer o difícil dever de fazer o possível para que a recuperação do emprego ocorra de forma célere e sem a criação de novos desequilíbrios. Para isso, terá de garantir a estabilização econômica, que só estará completa com o ajuste das contas públicas e a aprovação de reformas que apoiem a redução do déficit público e elevem a competitividade do país.
O governo Temer tem pouco espaço para erro. Se abrir mão de prioridades, como a criação do teto para o gasto e a reforma da Previdência, em nome de uma composição política mais confortável, aumentará o tempo para a normalização da vida de milhões de famílias que hoje convivem com o desemprego.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”