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editorial

O Paraná perplexo

O Paraná tem estado no centro das atenções do país por ser o ponto focal da Operação Lava Jato, que vem desvendando um esquema bilionário de propinas e desvio de dinheiro de Petrobras. Um escândalo nacional e até mesmo internacional, considerando o envolvimento de empresas estrangeiras e as repercussões entre acionistas minoritários nos Estados Unidos. Mas o estado, infelizmente, também tem escândalos próprios que vêm assustando os paranaenses. As operações Voldemort e Publicano, por exemplo, estão trazendo à luz irregularidades dos mais diversos tipos.

Uma figura importantíssima na rede que vem sendo revelada é Luiz Abi Antoun, parente de Beto Richa e que, embora jamais tenha exercido cargo no governo, é reconhecido como interlocutor constante do governador – uma influência, no entanto, da qual não se faz muito alarde, a julgar pelo episódio em que Abi foi “apagado” de uma foto feita no gabinete de Richa (já a mulher de Abi é vice-presidente da Sercomtel, por indicação da Copel). Abi foi um dos presos na Operação Voldemort (e posteriormente solto graças a um habeas corpus), e foi apontado pelo Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) como mentor de um esquema destinado a beneficiar uma empresa de sua propriedade em um contrato emergencial para a manutenção da frota de veículos do governo.

As operações Voldemort e Publicano estão trazendo à luz irregularidades dos mais diversos tipos

O nome de Abi, no entanto, pode não estar ligado apenas a supostas fraudes em licitações. O coordenador do Gaeco chegou a dizer à Gazeta do Povo que estava investigando elos entre as irregularidades encontradas nas operações Voldemort e Publicano – esta última envolve a Receita Estadual e trata da cobrança de propina por parte de auditores para que empresas devedoras não sofressem punições. A própria Operação Publicano, por sua vez, surgiu como desdobramento da investigação de uma suposta rede de exploração sexual de menores em Londrina – as prisões efetuadas na ocasião incluíam um auditor e um delegado da Receita Estadual, além de um ex-assessor da Casa Civil, o fotógrafo Marcelo Caramori.

E, sem ligação com os escândalos envolvendo Luiz Abi e a Receita Estadual, voltou à tona o caso da licitação para a construção de um anexo do prédio do Tribunal de Contas do Estado – dias atrás, o Gaeco ofereceu à Justiça denúncia contra seis pessoas, incluindo três diretores do TCE, que fariam parte de um esquema destinado a favorecer uma empresa na concorrência realizada em 2014 e posteriormente anulada. Em junho do ano passado, Luiz Bernardo Costa, então coordenador-geral do TCE, tinha sido preso após sair do escritório da construtora vencedora da licitação carregando R$ 200 mil. A denúncia do Gaeco, no entanto, foi suspensa após questionamento relacionado à legalidade das provas obtidas.

Tal é o descalabro em que, lamentavelmente, se encontra nosso estado. Como se já não bastasse o desequilíbrio financeiro, que a equipe do secretário Mauro Ricardo Costa vem tentando resolver, observamos também uma crise moral de grandes proporções, demonstrada pela variedade dos delitos que vêm sendo investigados – de fraude em licitações a exploração sexual de menores – e que envolvem figuras importantes, ainda que algumas prefiram se movimentar longe dos holofotes. Enquanto isso, a base aliada na Assembleia Legislativa propõe, de uma só vez, cinco CPIs com temas como maus-tratos contra animais e explosões de caixas eletrônicos. Como o artigo 36 do regimento da Casa só permite o funcionamento simultâneo de exatas cinco CPIs, o Legislativo não teria como entrar na investigação dos escândalos. Não se pode aceitar esse tipo de “operação abafa”. As instituições e a sociedade precisam permanecer atentas.

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