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Deu no New Pravda Times que Putin, o galã, se zangou com a punk-oração que pedia a Nossa Senhora para livrar a Rússia do neoczar. O deboche é mais poderoso que os fuzis e Putin foi de galanteador de moçoilas a perseguidor de punks da periferia, gente que em Moscou fazia espetáculos na Freguesia do Ó. As imponderabilidades da história trouxeram para a ribalta as meninas barulhentas do Pussy Riot (melhor não traduzir e deixar o sabor ao leitor) e vão empurrando Putin e seus asseclas ao fundo do cenário, para as franjas da história onde jazem os megalômanos.

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A cantoria das meninas numa igreja foi sofrível em qualidade musical e teatral e, não houvesse reação tirana, passaria despercebida como molecagem de quem deseja cantar, mas precisa aprender muito sobre o manejo das guitarras e da voz. Contudo, ditadores não suportam o riso, a provocação, o humor. Sisudos, não convivem com a algaravia da brincadeira, da alegria, da arte com motivação política, principalmente se ela é oposta a seus interesses de obter obediência absoluta, sem resistência.

Putin, que tem o mérito da condução da Rússia bêbada depois de Boris Yeltsin, deu apoio a Kadafi – botocado e finado imperador da Líbia –, sustenta Bashar al Assad na Síria, encompridando a guerra civil e o aprofundamento do ódio que dificultará solução negociada. Na Belarus a ditadura enclausura, censura, persegue, exila, com o beneplácito da Rússia. O sonho do Gorbachev com a glasnost não frutificou e a Rússia continua como era na monarquia e depois na república soviética: opaca, governada por partido único, sem espaço para o dissenso, debate, eleições livres.

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O motim das meninas é significativo porque são pessoas frágeis, sem dinheiro e articulação política na forma tradicional de partidos. Quixotescas, atraíram os olhos do mundo livre para a pantomima judicial que se armou no julgamento da acusação de vandalismo e ódio religioso. O Judiciário russo, controlado pelo governo, ouviu de uma das artistas, Nádia: "Nós podemos dizer o que queremos. Vocês têm a boca costurada." Presas, são livres. A juíza, os agentes do Ministério Público, não fruem de independência para acusar e julgar conforme a própria consciência jurídica, com plena autonomia funcional. Estão a serviço da força, não da justiça.

Nas fotos, Nádia aparece com camiseta azul na qual se lê "No pasarán", lembrando La Pasionaria, Dolores Ibarruri, que lutou pelo socialismo na Guerra Civil Espanhola em 1935 e, derrotada, se asilou na União Soviética, voltando à Espanha depois da morte de Franco, mantendo-se fiel ao comunismo até a morte em 1989. O bordão de luta pró-soviética apropriado pelas punks que cantam e debocham do governo pós-soviético, mas cujos métodos nada diferem da escola stalinista, soa adequado porque demonstra que as meninas têm paixão e mantêm a firmeza contra a avalanche de adversidades criadas pela ditadura ferida.

O trocadilho Putin Riot/Pussy Riot dá a medida da fama que pode colar no tri-presidente. Catarina, Nádia, Maria. Mulheres comuns que se transformaram em símbolo da luta contra a supressão da liberdade artística praticada por ditadores que espumam de raiva.