Acidente matou dois rapazes
A colisão aconteceu na esquina das ruas Monsenhor Ivo Zanlorenzi e Paulo Gorski na madrugada de quinta-feira (7). O deputado dirigia um Volkswagen Passat de cor preta, que acabou batendo contra um Honda Fit de cor prata. Após a colisão, os carros foram parar na Rua Barbara Cvintal, uma via local paralela à Monsenhor Ivo Zanlorenzi. Pedaços de lataria, vidros e ferros ficaram espalhados por cerca de cem metros.
Os dois ocupantes do Honda, Gilmar Rafael Souza Yared, 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, de 20 anos, morreram no local. Eles voltavam do Park Shopping Barigui, onde Almeida trabalha. Yared estudava psicologia e planejava viajar para Austrália.
Embora a ocorrência tenha acontecido durante a madrugada, a família só ficou sabendo que o deputado tinha se envolvido no acidente por volta das 10h de sexta-feira. A funcionária do apartamento de Fernando Ribas Carli, localizado a poucos metros do local do acidente, viu as imagens na televisão dos dois veículos pela manhã e reconheceu o deputado pelo cabelo e a roupa. Imediatamente avisou a família, que iniciou a busca em hospitais.
O automóvel dirigido por Carli Filho não era usado por ele diariamente. Ele tem uma Land Rover, que estava no conserto. O Passat era da transportadora do pai.
Documentos mostram que o deputado Ribas Carli Filho coleciona multas por excesso de velocidade
- RPC TV
Durante o acidente que matou dois rapazes na semana passada, o deputado Fernando Ribas Carli Filho teria decolado com seu carro da pista, tamanha era a velocidade que ele desenvolvia, segundo disse nesta segunda-feira (11) o advogado Elias Mattar Assad, que representa a família de uma das vítimas. A mãe de um dos rapazes morto no acidente ainda disse que o parlamentar estava com a Carteira de Habilitação cassada - ela teve acesso ao inquérito.
O parlamentar recebe atendimento médico desde a batida, na madrugada de quinta-feira (7). Ele foi transferido para São Paulo no final de semana e, desde então, seu estado clínico não é divulgado. Ninguém da família do deputado quis comentar.
A família de Gilmar Rafael Souza Yared, de 26 anos, morto no acidente, contratou o advogado Assad, que por sua vez diz que um estudo comprovará em breve a tese de que o carro voou. "Um laudo deverá ser emitido em breve com as condições do acidente. Há evidências de que o carro do deputado literalmente decolou", disse o advogado, que acompanhou seus clientes nesta tarde em depoimento à Polícia Civil. "Inúmeras pessoas" teriam se colocado à disposição da família das vítimas para testemunhar sobre a alta velocidade do carro Passat de deputado, de acordo com Assad.
Informações preliminares da polícia davam conta de que o velocímetro do deputado teria travado em 190 quilômetros por hora. O delegado que conduz as investigações, Armando Braga, da Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran), afirmou que encontrou o velocímetro no dia seguinte marcando zero - nesta segunda-feira, o policial anunciou que não daria mais entrevistas à imprensa. O tenente do corpo de bombeiros Tiago Zajac, que atendeu o local do acidente, também diz que o marcador estava em zero. Sem dizer quem foi culpado, Zajac ressalta apenas que a batida foi "violenta".
O tenente conta que o deputado foi levado ao Hospital Evangélico em estado de "semiconsciência". "Ele só gritava de de dor e dizia ser o Fernando. Até então, não sabíamos que era um deputado", relata. O deputado deu entrada no hospital e foi induzido ao coma. Dentro da escala de Gasglow, que mede a profundidade do coma e vai de três a 15, o deputado deu entrada em nível seis, o que indica estar quase sem qualquer reação. Em rápida recuperação, já no final de semana ele já recebeu visitas de políticos.
Até a noite de domingo (10), Carli recebia atendimento no hospital curitibano. Depois, foi transferido para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde recebe atendimento de uma equipe médica especializada em reconstrução crânio-facial de "renome internacional".
Acompanhamento
Apesar do desencontro de informações, Assad disse que confia nas investigações da polícia. "Tive acesso hoje ao inquérito e possa garantir que tudo o que deveria ser feito o foi". Uma das garantias de que as investigações prosseguirão com lisura é a interferência do Tribunal de Justiça e do Ministério Público. Por envolver um deputado, que tem foro privilegiado, a Procuradoria Geral do Estado designou nesta segunda-feira um desembargador para acompanhar o desenrolar do caso.
Até mesmo um novo delegado pode ser designado para acompanhar o caso. O promotor criminal Rodrigo Réginer Schemin Guimarães, designado para acompanhar o inquérito, de número 126/09, disse não ver necessidade. Guimarães não quis opinar sobre o caso, pois disse recém ter iniciado o trabalho e ter apenas "conhecimento por meio dos veículos de mídia".
Os pedidos de transparência também foram feitos no local de trabalho de Carli Filho. O deputado estadual Tadeu Veneri (PT) exigiu na tribuna que não haja privilégios por se tratar de um parlamentar. "Temos que cumprir aquilo que diz a Constituição Federal, que nós somos iguais. Nesse caso, ninguém pode aceitar um tratamento diferenciado para esse ou aquele", declarou Veneri ao telejornal Paraná TV 2ª Edição.
Multas
O deputado Carli Filho tem inúmeras multas, a maioria por excesso de velocidade, segundo disse Cristiane Yared, a mãe de uma das vítimas, ao Paraná TV 2ª Edição. Ela teve acesso ao inquérito nesta tarde, ao prestar depoimento no Dedetran, e disse ter contado seis folhas de multas. A Gazeta do Povo traz na edição de terça-feira (12) uma matéria completa com todo os delitos de trânsito em aberto e outros detalhes do caso.
Depois de prestar depoimento, Cristiane clamou pela intervenção do governador Roberto Requião. "Senhor governador, o senhor preza pela família. Não posso acreditar que o senhor queira acobertar esse caso", declarou Cristiane, aos prantos. Requião foi uma das visitas recebidas por Carli Filho no hospital.
Uma parente da outra vítima, Carlos Murilo de Almeida, também prestou depoimento nesta tarde, mas não quis dar entrevista.
A reportagem da Gazeta do Povo tentou ao longo desta tarde ouvir o parlamentar - caso seu estado de saúde o permita - ou parentes dele, mas ninguém quis se pronunciar. A pedido do delegado Braga, a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública foi contatada para comentar as novidades do acidente, mas não houve retorno.
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