As câmeras de segurança que flagraram o acidente causado pelo ex-deputado Carli Filho que matou dois rapazes no mês passado foram adulteradas, afirma perícia divulgada no início da noite desta sexta-feira (12). O estudo foi realizado por uma empresa particular a pedido da família de Gilmar Rafael Yared, uma das vítimas fatais do acidente. Segundo o advogado da família, a contratação da análise consta nos autos do inquérito como o assistente técnico oficial, o que é previsto em lei.
"A câmera 8 foi adulterada para suprimir imagens do veículo Passat", diz o vídeo da perícia, sob o título "conclusão". O Passat era o carro de Carli Filho. De acordo com a perícia, algumas imagens que compõem um segundo da filmagem mostram imagens antigas.
Para o advogado que representa a família Yared, Elias Mattar Assad, as provas foram adulteradas antes de serem enviadas para a polícia. "Alguém deve ter ido naquele posto de gasolina [que tem as câmeras] entre quinta-feira [dia do acidente] e sábado. É uma tentativa de fraude processual", opina Assad.
A suposta fraude, no entanto, não teve efeito, pois uma outra câmera do posto flagrou a trajetória do carro. A partir das imagens, a empresa Kauffmann Associados pôde calcular a velocidade do carro do então deputado Carli Filho. A conclusão é levemente maior do que era estimada. Ao invés dos 190 quilômetros por hora, a perícia determinou que o veículo se deslocava a 191,52 quilômetros por hora.
Uma simulação virtual também corroborou com a tese de que o carro do então parlamentar decolou da pista no momento em que atingiu o veículo ocupado por Yared e Carlos Murilo de Almeida.
A análise da Kauffmann deverá ser anexada no inquérito policial. A Polícia Civil também deve realizar uma reconstituição, mas não há data marcada até o momento.
A reportagem tentou entrar em contato com o advogado que representa Carli Filho, Roberto Brzezinski Neto, no início desta noite, mas ele não foi encontrado. À Polícia Civil, Carli Filho teria dito não lembrar do acidente.
Do acidente à renuncia
O que poderia ser apenas mais um acidente trágico com mortes a entrar para as estatísticas de trânsito acabou provocando a primeira renúncia de um deputado estadual na história do Paraná. Além disso, expôs um histórico de multas não só de políticos, mas de 68 mil cidadãos que continuam dirigindo com a carteira de habilitação suspensa.
Depois da morte dos jovens, o governo do estado decidiu "caçar" os motoristas que ignoram as leis de trânsito. A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) determinou a entrega das habilitações suspensas em 48 horas, sob ameaça de prender os desobedientes.
O resultado foi um crescimento de 568% na devolução de carteiras no primeiro dia medida, 28 de maio. Foram 695 devoluções só nesta data. A média de 2009, até então, era de 104 devoluções por dia.
Nesse universo em situação irregular, 26 deputados estaduais já receberam notificação de suspensão de carteira. A descoberta também veio na esteira do caso Carli - o próprio ex-parlamentar estava com a carteira cassada, conforme revelou a Gazeta do Povo.
A população também participou protestando contra a impunidade no trânsito, cobrando respostas da polícia, do Judiciário e da Assembleia Legislativa. Saiu às ruas em passeatas e fez campanha com adesivos nos carros "190 km/h é crime".
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