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O tráfico de drogas condenou à morte 70 meninos e meninas só este ano na cidade de São Paulo. Eles estão sob a tutela do Programa de Proteção à Criança e ao Adolescente e sobrevivem escondidos, sob pseudônimos, afastados da sociedade e impedidos de freqüentar escolas tradicionais. "O serviço completa três anos em outubro. Em todo esse período, o tráfico sempre foi o motivo principal que tornou os adolescentes alvos de ameaças de morte. Isso em 95% dos casos", afirma a secretária executiva da Comissão Municipal de Direitos Humanos, Célia Cristina Whitaker.

Alguns estão com os dias contados por acumularem dívidas com os "donos da boca". Outros sofrem ameaças violentas de viciados. Uma parte dos garotos virou alvo por trabalhar para mais de um ponto-de-venda. "Traficante não tolera infidelidade. Estou com um ‘X’ na testa", disse uma das meninas protegidas, de 16 anos, ao Juizado da Vara da Infância e Juventude de Santo Amaro, na zona sul, ao citar que o trabalho para dois "chefões" do tráfico foi o motivo que a colocou em risco.

Ela disse ter encontrado na venda de maconha e cocaína uma forma de subsistência. Tempos depois, a mesma mão que a acolheu no "mercado" apontou a sentença de morte.

Para outro menino, de 17 anos, são os R$ 3 mil em dívidas de cocaína que o levaram para a lista negra dos criminosos. E não são poucos os meninos condenados pelo tráfico. Pelo programa já passaram cerca de 300, a maioria na faixa etária entre 14 e 16 anos. "Para cada garoto protegido, são mais quatro da família que precisam ingressar no programa. O nosso trabalho é promover a reinserção social deles, invariavelmente, em outra cidade."

O critério de seleção dos adolescentes participantes - encaminhados por conselhos tutelares ou por varas da infância - é cruel. Só entram no programa quando o risco de morte ficar comprovado. "São exemplos da lógica perversa do tráfico. Se eles são seduzidos pela proteção inicial que a figura do traficante impõe, mais tarde é esse mesmo personagem que os ameaça quando as leis do crime não são respeitadas", observa o juiz da infância de Santo Amaro, Iasin Ahmed, um dos coordenadores do projeto.

Se a ameaça de morte priva os menores de liberdade, também é o tráfico que afasta os adolescentes de um outro tipo de convívio social. No ranking de causas para a internação na Fundação Casa (antiga Febem), a venda de drogas ganhou força, sendo o crime cometido por três em cada dez infratores. Há dois anos, o tráfico de drogas correspondia a 14% dos delitos.

EXPERIMENTAÇÃO

A relação entre drogas e criminalidade juvenil foi levantada em uma pesquisa realizada pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), recém divulgada. Foram avaliados 150 meninos da Fundação Casa de Ribeirão Preto (no interior paulista). Desse total, 96,7%, disseram ter experimentado maconha e 65,3%, cocaína.

"A experimentação da droga, no geral, é aos 12 anos. E sempre antecede a entrada deles na vida criminal, na média aos 14 anos", afirma a autora do trabalho, a psicóloga Mayra Martins "Eles não entram no crime para sustentar o vício. A principal motivação relatada é o consumo, o tênis de marca. O uso de drogas é um coadjuvante, mas presente na rotina desses jovens."

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