Do quintal de casa, vejo-a de perto. Imponente, reina altiva na paisagem da vizinhança. Ergue os braços ao alto e, assim, inevitavelmente conduz o olhar de quem a observa para os céus. Ao abrir a janela que dá para o jardim, lá está ela de novo. Desta vez mais ao longe, leva-me a observar a linha do horizonte, além dos domínios da visão corriqueira. Se saio para dar uma volta pelos arrabaldes, também cruzo com ela por ali e acolá. Nem sempre reparo, imerso em pensamentos ou em outras distrações. Mas nada muda o fato de que ela está lá. Há muito mais tempo do que se imagina.

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De tão presente nestes planaltos meridionais, a araucária incorpora-se à paisagem urbana e rural a ponto de nem ser percebida. Mas basta que empreendamos uma viagem um pouco mais longa a outras paragens... No retorno, aí, sim, a lembrança vem forte: o simples avistar dos pinheirais ao largo é o reconfortante sinal de que estamos perto de casa, daquilo que é nosso.

A araucária é mais que a árvore-símbolo do estado. É um patrimônio afetivo do Paraná e de Curitiba – a capital dos muitos pinheirais. Não estranha, portanto, que tenha sido escolhida no voto popular para estampar o cartaz oficial da cidade para a Copa de 2014.

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A imagem estilizada do pinheiro-do-paraná mostrará ao mundo uma espécie rara, que só ocorre numa pequena faixa deste imenso planeta. O acaso quis que o Sul de nosso país fosse agraciado. Sorte nossa. Mas por certo que a peculiar árvore em forma de taça chamará a atenção dos visitantes que aqui aportarem para o Mundial.

De qualquer maneira, ao reafirmar a araucária como símbolo de nossa terra e ícone com o qual vamos nos mostrar ao mundo, ganhamos nova oportunidade de percebê-la sem precisarmos nos afastar dos pinheirais numa longa viagem. É tempo, portanto, de lembrar que esse estado ergueu sua economia sobre pilastras de pinho. E reconhecer que isso teve um custo: no Paraná, restou apenas 0,8% da cobertura original das matas com araucárias em bom estado de conservação.

Os pinheiros não reclamaram e não irão praguejar contra nós. Mas temos uma dívida com eles. Precisamos encontrar meios de conservar o que restou. Talvez tenhamos de desviar o olhar além do corriqueiro e ver mais adiante, como a araucária do horizonte nos ensina. Assim, manteremos a memória de nossa casa.

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