Costumava encontrar com o professor Belmiro Valverde Jobim Castor no supermercado que frequento, perto de minha casa, no bairro Juvevê. Numa destas vezes conheci seu genro o alemão, Martin Lohmann, casado com Carolina, sua filha mais nova, que mora na Alemanha com o marido e a filha, Ana Clara.
No final do ano passado, matriculei-me na disciplina de Globalização e Geo-Estratégica Empresarial, ministrada pelo professor Belmiro Castor, no programa de doutorado, em administração pela PUCPR. Entusiasmava-me a oportunidade de estudar com um dos ícones da administração pública paranaense dos anos 70 e 80, (ele foi secretário do planejamento dos governos Canet e Richa, e secretário de Educação no governo Álvaro Dias), quando o Paraná tinha um projeto de estado e investia forte em infraestrutura, como rodovias e comunicações.
As aulas, às quartas-feiras, à tarde, tiveram início em 12 de março deste ano. Tivemos, até a morte do professor Belmiro, em 29 de março, aniversário de Curitiba, apenas três encontros. Nossa turma, com cerca de 20 alunos, a maioria do doutorado em administração, possui alunos de outros cursos, como doutorado em Gestão Urbana, no meu caso. São três estudantes estrangeiros: uma moçambicana, outra chilena e um terceiro angolano.
No terceiro encontro, portanto a última aula do prof. Belmiro, notei que ele já se dirigia a cada aluno pelo nome. Contou uma piada em espanhol e conferiu com a aluna chilena se a pronuncia estava correta, no que ela concordou. Ele falava e escrevia ainda em inglês e francês.
O que ficou das aulas do professor Belmiro Castor? Primeiro o seu profundo conhecimento sobre o tema, a clareza como expunha suas ideias, e o seu bom humor.
Quando o assunto ficava pesado ele ilustrava com uma anedota que se encaixava no contexto da aula. Num dos intervalos perguntei a ele: como, na década de 70, durante o governo Jaime Canet Jr (1975/79), o estado consegui implantar quase 4 mil km de rodovias asfaltadas no Paraná? Lembrei que atualmente, não se constrói praticamente nada. Ele respondeu que, quando Canet assumiu o governo, recebeu do governo Parigot de Souza/Emilio Gomes (no qual ele havia trabalhado cerca de um ano como secretário do planejamento), projetos de asfaltamento de 2.500 km rodovias e, quando deixou havia outros 2.900 km planejados para o próximo governo, que foi Ney Braga.
Naquela época, explicou, que se fazia planejamento com a estrutura técnica do estado, não através de empresas terceirizadas como ocorre atualmente. Disse que foram efetuados apenas dois empréstimos internacionais de cerca de 100 milhões de dólares cada para estas obras. Falou que o estado não tinha tantas despesas fixas como atualmente. A máquina era enxuta, com poucas secretarias, e reduzido número de cargos comissionados. A prioridade do governador Canet, segundo ele, era canalizar os recursos públicos para infraestrutura. Manifestou, nesta conversa, seu profundo respeito e admiração pelo ex-governador Jaime Canet Jr, a quem costumava visitar e aconselhar-se com frequência.
Também relatou as pressões que sofrera quando, através de artigo de domingo, na Gazeta do Povo, posicionou-se contra o programa "Tudo Aqui", do governo do estado, que propunha a terceirização, para uma empresa privada, de 171 serviços públicos, por 25 anos, prorrogáveis, por outros 25 anos, no valor de R$ 3 bilhões de reais. O artigo tinha o sugestivo título: "Um novo ICI." Disse-me que, nesta fase da vida, aos 71 anos, não estava disposto a transigir de princípios para agradar a ou b, permitindo assim que grupos enriquecessem a custas do erário. O projeto "Tudo Aqui", foi abandonado pelo governo estadual.
Na sua última aula, Prof. Belmiro, falou com entusiasmo da Escola Papa João Paulo II, que mantinha na zona rural de Piraquara, contando das inúmeras conquistas na área educacional e esportivas (karatê), que dirigia com a esposa Elisabeth. Disse que, no final de abril, ficaríamos uma quarta-feira sem aula, pois ele iria a Roma, na canonização do Papa João Paulo II. Dirigindo-se a mim perguntou: Jorge, adivinhe quem vai comigo? Respondi de pronto: Aroldo Murá, sabendo da amizade dos dois. No que ele retrucou: Aroldo é meu amigo há mais de 50 anos.
Ao observar a chuva que cai neste domingo de outono, vejo a cidade chorando a morte deste grande brasileiro, Belmiro Valverde Jobim Castor, que nos ensinou um dia que "o Brasil não é para amadores". Fica a lição para nos profissionalizarmos e de que é fundamental a profissionalização de nossas instituições.
Jorge Bernardi é aluno do doutorado de Gestão Urbana da PUCPR e vereador de Curitiba.
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