O acidente de ônibus que matou 51 pessoas de União da Vitória, no sul do Paraná, e da cidade-irmã Porto União, em Santa Catarina, completou um ano nesta segunda-feira (14). Há um ano, um grupo de 59 pessoas seguia para Itapoá (SC) para participar de uma celebração religiosa de matriz africana. No caminho, o ônibus da Costa & Mar caiu de uma ribanceira na Serra Dona Francisca, no quilômetro 89 da SC-418. Foi uma descida em queda livre, o ônibus estava a 90km/h e caiu a 120km/h, conforme a perícia realizada pelo Instituto Geral de Perícias (IGP). Oito pessoas se salvaram.
INFOGRÁFICO: veja no mapa o local do acidente
Para lembrar das vítimas da tragédia, um culto ecumênico e um ato da Federação Umbanda, Candomblé e Angola (Fuca) foram realizados no sábado (12). Em nome dos familiares das vítimas, Djalma de Lara, que perdeu a esposa Marcia Regiane Ramos no acidente, disse que estava emocionado e reconfortado com o gesto de quem participou da homenagem. “Eu sei que com a dor você se acostuma e eu estou conseguindo levar a minha vida. É claro que hoje é um dia eu não gostaria de estar aqui para lembrar, mas eu agradeço a todos que estão junto agora. Nós estamos aqui para lembrar dos que foram, um dia nós nos encontramos, quem sabe”, falou. Nenhum dos oito sobreviventes compareceu às homenagens.
As homenagens contaram ainda com discussões sobre morte, luto e reencarnação durante o Fórum Afrorreligioso, realizado na Secretaria de Cultura de União da Vitória, organizado pela Federação Umbanda, Candomblé e Angola (Fuca). O fórum contou com a participação do Lar Espírita União. “Nós estarmos aqui relembrando esses irmãos que nos deixaram em um momento em que deixaram as suas casas para prestar sua fé na beira das águas salgadas. É um dever, um compromisso com eles que se foram e com os familiares que ficaram”, disse Antônio Piasson, presidente da Fuca.
Segundo José Aparecido Felix, presidente do fórum, o momento é importante para homenagear as vítimas. “É ímpar. É um momento em que nós nos unimos à dor de cada um dos familiares, para juntos recordarmos essa situação”, afirmou completou.
Para Felix, é preciso aprender a conviver com a ausência de quem parte. “Para nós, adeptos de religiões de matrizes africanas, nós acreditamos que a vida é uma passagem”, disse.
A Fuca ainda irá realizar ainda outra celebração às vítimas no local do acidente, mas não há data marcada.
Logo após as falas, familiares das vítimas, amigos e grupos religiosos saíram em caminhada da Secretaria de Cultura em direção ao Cemitério Municipal. No trajeto, cantos religiosos foram entoados. Os familiares das vítimas receberam rosas brancas. Todas foram depositadas no cruzeiro do Cemitério Municipal.
Após as orações, alguns pombos brancos foram soltos como um símbolo de fé e paz. “Queremos fazer presente todas as vítimas que se foram, nós acreditamos na questão do resgate e esse resgate agora é importante. As rosas brancas representam cada uma das almas que ali se foram”, explicou José Aparecido Felix, do Fórum Afrorreligioso.
Investigações
O IGP deu início às investigações poucos dias após o acidente, mas o desfecho das investigações não agradou. O processo criminal foi arquivado por “não haver quem responsabilizar”. Cergio da Costa, motorista e um dos donos da empresa de transporte, também morreu no acidente.
Conforme apontaram as investigações, se tivesse sobrevivido, Costa poderia ser indiciado por homicídio culposo – quando não há intenção de matar - já que o laudo divulgado pelo IGP afirmou que o motorista teria causado a tragédia por exaustão física, pressão psicológica e consumo de bebida alcoólica. No seu sangue foram encontrados 1,49 decigramas de álcool por litro.
Um ano depois da tragédia, ainda não há nenhuma ação conjunta protocolada por familiares contra a empresa no Ministério Público de União da Vitória, . Por outro lado, conforme o jurídico da Federação Umbanda, Candomblé e Angola (Fuca), da qual as vítimas faziam parte, apenas quatro famílias entraram com ações de dano moral contra a empresa. Ainda segundo a Federação muitas famílias preferem não representar por já terem recebido o seguro DPVAT.
Na serra
Após o acidente, uma onda de fiscalização tomou conta da Serra Dona Francisca. O posto da Polícia Rodoviária Estadual na SC-418 se desdobrou em abordagens. Cintos de segurança e documentação eram verificados. As fiscalizações foram e ainda são feitas normalmente. De acordo com a Policia Rodoviária Estadual de Campo Alegre, não houve nenhum pedido para reforçar os trabalhos na época.
O pátio da polícia ainda abriga o que sobrou do ônibus que caiu da serra. Em boa parte do trajeto – até chegar à curva em que ocorreu a tragédia – é quase impossível enxergar as placas de sinalização. Elas continuam escondidas e estão atrás de galhos e árvores.
No local do acidente ainda é possível encontrar alguns destroços e pertences das vítimas. Nada, efetivamente, parece ter mudado o cenário da tragédia.
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