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Cortejo: corpo foi levado sobre carro de bombeiros desde o Palácio das Araucárias, no Centro Cívico, até o Água Verde | Fotos: Rodolfo Bührer/ Gazeta do Povo
Cortejo: corpo foi levado sobre carro de bombeiros desde o Palácio das Araucárias, no Centro Cívico, até o Água Verde| Foto: Fotos: Rodolfo Bührer/ Gazeta do Povo

O que ela disse

Pastoral

"Nessa época, eu tinha cinco filhos e já era viúva há cinco anos, estava numa fase emocional equilibrada, tocando o barco para frente. Eu disse para os meus filhos: ‘Eu sempre durmo cedo, mas hoje preciso ficar acordada. Vou tomar um café e fazer o plano que vai salvar milhões de crianças no mundo’." Pasquim, 16/02/02

"A Pastoral nasceu da metodologia usada por Jesus no Evangelho de São João, que alimentou mais de cinco mil pessoas com cinco pães e dois peixes." Gazeta do Povo, 22/11/2003

"Eu diria que a participação comunitária é o principal fator do êxito da Pastoral." Revista Estudos Avançados, da USP, maio 2003

"A Pastoral não quer saber o que você pensa, se você é homossexual, prostituta ou outra coisa, nós queremos salvar as crianças onde elas estão em risco."Pasquim, 16/02/02

Nobel

"Quando visito locais paupérrimos e vejo crianças felizes, a emoção é maior do que qualquer prêmio que já recebi. É melhor até do que ganhar um Nobel da Paz. A indicação foi positiva para mostrar ao mundo um outro lado do país."Gazeta do Povo, 22/11/03

Família

"Eu acredito que os problemas sociais vêm de duas áreas: uma é da família, que forma o tecido social humano. Todos entendem que realmente a pessoa tem muito do que foi na primeira infância. A outra área é a das políticas públicas."Pasquim, 16/02/02

  • Sepultamento: centenas de pessoas acompanharam a última homenagem à fundadora da Pastoral da Criança
  • Flávio Arns e Marina Silva: políticos de todos os partidos homenagearam Zilda

O sentimento de gratidão pelo trabalho realizado marcou a despedida a Zilda Arns na tarde de ontem, em Curitiba. Na missa de corpo presente realizada no Palácio das Araucárias, dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) resumiu o que todos sentiam. "Em nome da CNBB, da Igreja e do Brasil temos de dizer: Obrigado dona Zilda, muito obrigado por toda a sua realização."

A missa encerrou dois dias de homenagens à fundadora da Pastoral da Criança em Curitiba. Pelo velório, realizado na sede do governo do estado, passaram mais de sete mil pessoas desde a manhã de sexta-feira, quando o corpo chegou à cidade.

Trazido do Haiti, onde Zilda Arns se tornou uma das milhares de vítimas do terremoto da última terça-feira, o caixão foi levado em cortejo pelas ruas da cidade depois da missa celebrada por dom Geraldo. No caminho até o cemitério do Água Verde, a população parava para aplaudir por uma última vez a médica e sanitarista três vezes indicada ao Nobel da Paz.

O sepultamento foi feito numa cerimônia rápida, perto das 16h30. O caixão foi colocado no jazigo da família, onde já estavam os corpos do marido e de dois filhos de Zilda, falecidos anos antes.

Caravanas

Gente de todas as partes passou pelo velório. Caravanas vieram de todas as partes do Paraná, de Santa Catarina, do estado de São Paulo e do Ceará. "Não podia deixar de dar esse adeus", disse Maria Olinda da Silva, de 78 anos, que viajou de Aracaju, no Sergipe. Coordena­­dora estadual da pastoral na Bahia durante 14 anos, Maria Olinda diz que conhecia dona Zilda há 20 anos. "Ela era um modelo de afeto, gratidão e delicadeza", afirmou.

Dom Raimundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida, disse que Zilda Arns queria levar vida em plenitude a todas as pessoas. "Se preocupava não só com a vida espiritual, mas com a vida material das pessoas. Ela acreditava que o ser humano tinha de ter uma vida plena e que isso incluía tanto a comunhão com Deus como a plenitude da vida material", afirmou.

A senadora Marina Silva (PV) foi a terceira candidata à Presidência da República a participar do velório. Na sexta-feira, além do presidente Lula, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), já haviam estado em Curitiba.

Marina, que é acriana, comparou a morte da dona Zilda à do líder seringueiro Chico Mendes. "O sentimento que temos agora é o mesmo da época, de pensar quem vai continuar com esse trabalho. Como aconteceu no caso do Chico Mendes, sei que vão continuar. Não com a grandeza da doutora Zilda, mas vão continuar."

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Zilda cuidava da família como de sua pastoral

Em meio à comoção do luto, filhos e netos da médica pediatra e sanitarista Zilda Arns concederam uma entrevista coletiva ontem. O retrato píntado pelos quatro filhos e pelos dez netos é o de uma mu­­lher que, apesar da rotina atribulada, não deixava de comparecer aos eventos familiares e que se preocupava com a família da mesma forma como se dedicou ao trabalho na Pastoral da Criança.

Eles contaram que Zilda fazia questão de reunir a família em datas festivas. Antes de cada almoço e cada jantar, orava, em português e em alemão, em agradecimento. Incentivava cada um dos netos e a praticar esportes e se alimentar adequadamente. E as recomendações da avó às crianças não ficavam restritas à área da saúde: pianista, ela estimulava cada um dos netos a se aproximar da música.

Apesar do momento de tristeza, a família disse que havia um motivo para tranquilidade. De acordo com os filhos, era desejo dela ter uma "boa" morte, o que para ela significava morrer trabalhando. "Ao menos ela teve a morte que queria ter", disse Rubens, o filho mais velho.

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