O universitário transexual Samuel Silva, de 22 anos, aluno do 3º ano de Publicidade e Propaganda, foi expulso da Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, na semana passada, depois de publicar um post em seu perfil de uma rede social, criticando o método adotado por uma professora em uma prova. A faculdade, que registrou boletim de ocorrência no 78º DP (Jardins), diz que ele foi expulso por agredir o coordenador do curso, o que Samuel nega. Para o aluno, é um caso de transfobia.
Na prova de redação publicitária, segundo o aluno, tinha uma questão que perguntava sobre o áudio de um vídeo em inglês. Samuel não fala inglês. No Facebook, ele criticou a metodologia. A professora então enviou um e-mail para a turma, onde cita “vitimização moral” do estudante.
“Tenho a dizer que, das quatro turmas de PP, Samuel Silva foi o único aluno universitário que não teve capacidade de assimilar um áudio com sonora em Inglês, narrado lentamente, em linguagem cotidiana, de um filme de 30. Foi o único aluno a se sentir ‘colonizado’ por meio dessa solicitação. Foi o único aluno a não compreender o enunciado da questão que tratava de um comercial premiado, e era fundamentada por um texto base oferecido como consulta a todos”, dizia o e-mail.
O caso chegou à direção da faculdade e o coordenador do curso de Publicidade convocou uma reunião com representantes da classe. Silva não foi chamado. “Não tive oportunidade de falar minha versão”, reclama.
“Fui interrogado por uma comissão de sete pessoas da fundação. Eles concluíram que eu agredi o coordenador e me expulsaram. Eu não o agredi, eu trombei com ele num corredor da faculdade”, defende-se o universitário.
A direção da faculdade demitiu a professora. O coordenador perdeu o cargo e segue como professor.
Segundo ele, o comunicado de sua expulsão foi feita por e-mail. - Fui avisado por e-mail. E depois comunicaram os demais alunos num auditório. Fui exposto perante toda a faculdade e não tive a oportunidade de me defender - disse Samuel Silva. Ele pretende recorrer da decisão e voltar à universidade.
A Frente LGBT da faculdade publicou uma nota de repúdio contra a atitude do corpo docente e administrativo da Cásper Líbero.
“Nós, da Frente LGBT Casperiana, repudiamos toda e qualquer atitude classista, elitista e transfóbica por parte do corpo docente e administrativo da Cásper Líbero, e exigimos um posicionamento e retratação por parte da Faculdade, bem como apoio para políticas de inclusão e integração para alunas e alunos LGBTs e para estudantes que não têm como pagar a mensalidade”.
A faculdade também divulgou uma nota. Veja abaixo, na íntegra:
“Esta semana a Faculdade Cásper Líbero instaurou uma sindicância para investigar o caso envolvendo o aluno Samuel Silva, que alega ter sido prejudicado na aplicação de uma prova que resultou no desentendimento com uma professora e na agressão de um docente. Durante este período, foram ouvidas todas as partes envolvidas no incidente, assim como as demais áreas competentes da Fundação para a tomada de decisão.
A Faculdade Cásper Líbero sempre recebeu de braços abertos a todos os que a ela acorrem. No nosso papel de instituição de ensino, temos dado apoio a grupos e lideranças estudantis, como o AfriCásper, Lisandra, LGBT, incentivando suas atividades.
No caso do aluno Samuel, também o recebemos de braços abertos desde o início de sua transferência, referendando seu pedido de uso do nome social conforme sua documentação acadêmica. O aluno sempre foi tratado com respeito e a direção recomendou a todos os funcionários, coordenadores e professores que dessem a devida atenção às condições do aluno.
Houve, nos últimos dias, uma série de desencontros nas informações, amplamente divulgadas pelo aluno. Em grande parte das publicações, o aluno insulta a Faculdade com ameaças e com discurso de vingança.
Para cumprir sua missão de formar os melhores profissionais, não podemos aceitar esse tipo de intimidação. Todos são iguais como alunos, com as diferenças aceitas e acolhidas.
Ainda que tenha havido desentendimento entre o aluno e a professora, nada justifica a agressão física do aluno contra o coordenador do curso. Por isso, a instituição comunica a transferência compulsória do aluno para uma instituição que o atenda.
Em relação ao coordenador do curso de Publicidade e Propaganda decidimos pela suspensão de suas atividades na função atual, e o convidamos a permanecer conosco como docente da instituição.
Decidimos também pelo desligamento da professora, entendendo má condução e má postura ao expor o aluno perante a classe e por alimentar a divulgação dos fatos decorrentes, mesmo após orientação de aguardar o resultado da sindicância para se manifestar.
Decisões como esta são sempre difíceis, mas necessárias para assegurar que a Cásper Líbero continue sendo um ambiente acolhedor e respeitoso.”
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