O filme que ironiza Maomé provocou a fúria do mundo islâmico. Povos tão diferentes quanto árabes e indonésios têm saído às ruas em violentos protestos. O que os agrega neste momento não são tão somente as ofensas ao Islã mostradas no tosco vídeo, mas principalmente o antiamericanismo. E, por mais que tudo pareça sintoma do atraso histórico dos muçulmanos, há algo comum que os aproxima do Ocidente: o ódio ao diferente algo latente em todas as sociedades e que funciona como uma cola que une as pessoas muito mais facilmente que qualquer outro sentimento.
A história do Ocidente está repleta de ira e intolerância contra o "outro". Guerras foram deflagradas em nome de Deus, da nação e das ideologias "corretas". O filósofo francês Luc Ferry vê, porém, uma evolução. Segundo ele, os ocidentais não estão mais dispostos a morrer pela religião, pela pátria ou pela revolução. Mas os ideais do passado, diz Ferry, foram substituídos pela competição econômica e pelo consumismo fatores que também podem provocar ódio. Sob determinadas condições, esse rancor irrompe violentamente.
No Brasil, a nova modalidade de ódio ao "outro" se expressa na crise da segurança pública. Existe ainda inveja enrustida na desconfiança contra os bem-sucedidos, os ricos e os empresários vistos por uma parcela da sociedade, de forma simplista, como exploradores do povo. De modo inverso, há um incômodo provocado pela ascensão de uma nova classe média, que disputa espaço e prestígio com os antigos ocupantes dessa posição social.
Luc Ferry entende, contudo, que existem hoje condições para que o Ocidente supere os riscos do novo ódio. Para ele, está em curso a "revolução do amor". O casamento romântico, afirma o filósofo, é algo relativamente recente. Surgiu quando os assalariados se emanciparam economicamente e puderam escolher com quem casar em função do sentimento e não das posses. Isso deu ao homem uma nova razão pela qual vale a pena se arriscar: as pessoas amadas, principalmente os filhos, antes vistos como mão de obra ou herdeiros do patrimônio familiar.
Esse afeto, diz o filósofo, implica importar-se com o mundo que os pais vão legar à sua prole. Isso provocou preocupações contemporâneas tais como a preservação ambiental, a qualidade da educação, a harmonia comunitária. Nesse sentido, uma "pedagogia amorosa" familiar e social teria o poder de conter os riscos desagregadores do consumismo. Mas nada será fácil, alerta Ferry. Amar sempre deu mais trabalho que odiar.
Correção
Cometi um erro na última coluna. Afirmei que a democracia havia sido inventada há 1,5 mil anos. Na verdade, ela surgiu há 2,5 mil anos portanto, 25 e não 15 séculos atrás, como estava escrito.
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