Em Paranaguá, no Litoral do Paraná, o carnaval deste ano tem um batuque um pouco diferente. Enquanto as demais cidades do litoral paranaense se preocupam em organizar a folia com um orçamento reduzido, o município precisa lidar também com uma questão ainda mais delicada: a reconstrução de sua festa.
Em 2016, a epidemia de dengue que assolou a cidade forçou a prefeitura local a cancelar as festividades por questão de saúde pública. Entre os meses de agosto de 2015 e julho do ano seguinte, foram mais de 16,4 mil casos registrados e 30 mortes confirmadas por conta da doença. Paranaguá estava em situação de emergência.
Um ano depois, a cidade luta para provar que os problemas ficaram para trás e que é possível fazer com que carnaval volte a ser uma força no município. As preocupações com a saúde continuam, mas já não tiram a tranquilidade dos parnanguaras. Desta vez, a população fica acordada para acompanhar os bailes, os blocos e as escolas de samba.
Contudo, como explica a secretária de Cultura e Turismo, Vera Telles, ainda é um desafio enorme para Paranaguá retornar ao seu velho carnaval depois dos problemas do ano passado. O cancelamento de última hora em 2016 deixou muita incerteza sobre a realização da festa neste ano, mas as coisas vão, aos poucos, se normalizando. “Ninguém sabia se teríamos ou não um carnaval na cidade, mas as pessoas viram que ia acontecer e ficaram mais confiantes”, conta. “E o pessoal está vindo”.
Turismo afetado
No entanto, não há como dizer que esse “recomeço” está sendo fácil. O turismo é o setor em que os efeitos desse medo e incerteza mais se refletem. “Cancelar o carnaval prejudica muito a questão turística da cidade”, explica a secretária de Comunicação de Paranaguá, Camila Roque. “Se você não tem em um ano, afeta o próximo. Você afasta o turista”.
E isso é algo sentido nas ruas e no próprio comércio. De acordo com Carmen Portela, recepcionista de um albergue a alguns poucos metros da área central do carnaval parnanguara, esse é o pior movimento de carnaval que ela já viu nos últimos 13 anos. O local onde ela trabalha tem capacidade para 100 pessoas, mas tem apenas quatro hóspedes para o feriado. Para ela, contudo, a falta de turistas não é fruto dos problemas com a dengue, mas um efeito da crise — embora as cidades vizinhas estejam operando com a rede hoteleira em seu limite.
Para o comerciante Lorenzi Monteiro, os turistas aparecem apenas a passeio durante o dia e que a grande maioria das pessoas que passam pela região para conferir o carnaval são moradores da cidade. Ainda assim, ele considera bom o movimento em sua lanchonete.
Parte dessa retomada mais tímida está na divulgação limitada que foi adotada pela administração municipal. Paranaguá seguiu o mesmo discurso de suas vizinhas e fez um carnaval com orçamento mais enxuto, o que impactou na promoção da festa. “Sem verba, a divulgação foi feita via meios oficiais e redes sociais. A política era fazer mais com menos”, conta Camila Roque. “E com o foco sempre em saúde, lembrando que a dengue já não é mais um problema por aqui”.
Para Vera Telles, por outro lado, apesar de todos os pesares, Paranaguá segue de braços abertos para receber os turistas nos próximos dias de folia. “2016 foi um ano difícil para todo mundo e, às vezes, as pessoas precisam de uma válvula de escape. Satisfação também é saúde”, conclui.