A expressão acima que até hoje não sei direito como se pronuncia designa, na imagem da televisão, a relação entre a largura e a altura. Antigamente era muito simples: todos os bilhões de tevês mantinham a relação "4 por 3". Eram as tevês analógicas, que seguiam, aliás, a mesma proporção dos filmes, até a revolução do cinemascope, um sistema de lentes que ampliava a largura da imagem e que o cinema implantou nos anos 1950. Mas a tevê continuava a mesma.
O fim do tubo de imagem, a digitalização das transmissões e a invasão das tevês com monitor LCD bagunçou a proporção tradicional principalmente porque convivemos com dois sistemas simultâneos de produção de imagem, o digital e o analógico. Isto é, o cidadão compra aquela bela televisão de 40 polegadas, com aspect ratio 16:9, o padrão que revolucionou o cinema, mas recebe em grande parte imagens no formato 4:3, que é usado pela maioria esmagadora dos canais da televisão, tanto do sinal aberto quanto do sistema a cabo. Pior que isso: se ele não usar uma antena digital caseira voltando aos tempos em que se espetava um bombril para melhorar o sinal ou não assinar nas empresas a cabo ou satélite um pacote específico de alta definição (HD), ele verá uma imagem pior do que via nos tempos do velho trambolho com tubo de imagem. Isso porque a tevê LCD (ou LED) não foi feita para receber imagem analógica, do sistema antigo; a cor fica meio borrada e perde-se a nitidez dos contornos. Muita gente, depois de comprar aquela maravilha tecnológica, se espanta com a porcaria de imagem que está vendo, até a empresa a cabo lhe oferecer o pacote HD.
Mesmo assim, são poucos os canais em alta definição. Quem assina pay-per-view de futebol, por exemplo, sofre muito no meu caso, sofre com o Atlético e sofre com as piores imagens de transmissão do mundo. A grande maioria continua produzindo imagens pelo sistema antigo (4:3), o que provoca um outro problema, além da imagem ruim. Para se manter o realismo da imagem, deve-se conservar na tevê a proporção original (o que cria faixas pretas à esquerda e à direita da tela). Assim, se você for assistir mais uma vez a Casablanca para curtir de novo aquela cena final maravilhosa, é claro que você vai querer vê-la exatamente como foi filmada, certo? Errado. É impressionante como a maioria das pessoas prefere ver a imagem esticada, prefere ver a Ingrid Bergman deformada, rosto redondo feito bolacha maria. Jamais entendi essa preferência. E não é só nas obras-primas do cinema. Novela de tevê também nos restaurantes, nas salas de espera, em toda parte, quando não se dispõe do pacote em HD, toda aquela mulherada bonita vira personagem de Botero, o pintor colombiano que gosta das cheinhas. Como eu sou um escritor realista, acho que a proporção das formas o aspect ratio, para falar bonito é inegociável.
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