O feriadão chuvoso já estava na previsão. O que os banhistas não esperavam encontrar neste final de semana, no litoral paranaense, eram estragos da ressaca do dia 29 de outubro. Duas semanas depois que a maré subiu, causando alagamentos à beira mar, o calçadão que leva a comunidade até o Pico de Matinhos, um dos cartões postais da cidade, continua destruído.
Ao todo, a ressaca danificou ruas da orla do município, desde Balneário Flamingo até a Praia Grande. As cidades de Guaratuba, Guaraqueçaba, Paranaguá e Pontal do Paraná também foram atingidas. Nem a Ilha do Mel ficou de fora.
Os turistas até se arriscavam a passar pela área danificada que dá acesso ao Pico de Marinhos, para tirar uma fotografia em um deck de madeira. No retorno, tinham de redobrar o cuidado. Parte da estrutura onde deveriam pisar com segurança foi levada por ondas e areia. “É uma situação complicada. O que sobrou perto do mar talvez não aguente muito tempo também”, comenta o mecânico curitibano Aldair Moreira, de 39 anos.
A técnica em enfermagem Rose Alecrim, 40, de Londrina, ficou surpresa com o estado da orla, praticamente toda tomada pelas ondas. “O mar avançou bastante. Antes esse pedaço era todo com areia”, relata ela, ao pontuar que, além do conserto do calçadão litorâneo, Matinhos carece de mais infraestrutura para o turista. “Não tem quiosques nem banheiros. Nós viemos porque é mais perto de onde moramos”, justifica.
O cenário também preocupa quem mora e trabalha nas redondezas. O funcionário público Everson de Andrade, 56, observa que se o mar avançar mais, a casa e um bar dele, no calçadão do Pico, serão inviabilizados. “Os moradores conseguiam entrar nessa área com carro. Agora não tem como. Se a maré continuar a subir, vai desbarrancar cada vez mais”, diz. Ele também tem receio de que a falta de conserto do local atrapalhe o movimento no estabelecimento alugado por ele. “Em torno de 70% dos turistas que vêm a Matinhos passam nesse local e é possível que não venham mais”.
O morador acredita que, para ser recuperado, o litoral do Paraná precisa receber mais investimento dos governos estadual e federal.
Obras inacabadas também eram motivo de reclamação neste final de semana entre banhistas. Era o caso da troca do calçadão, desde o Balneário de Caiobá, até a Praia Brava, e das fundações para a construção de quiosques e banheiros à beira-mar. Para a dentista Cláudia Arima, 47, é pouco provável que as intervenções fiquem prontas até o fim do ano, época alta temporada em Matinhos. “Em um mês, acho difícil avançarmos”, pontua.
O servidor aposentado Euclydes Nrowotisck, 86, lamentava o fato da praia paranaense não ter uma estrutura como a de Copacabana, no Rio de Janeiro, por exemplo. “Lá, são 76 quiosques só na praia. Aqui falta até comércio”.
Comércio se antecipa
Apesar das deficiências locais, os comerciantes ainda acreditam que um maior movimento de banhistas possa vir no fim do ano, em Matinhos. No estabelecimento onde Samuel Miranda, 18, trabalha, a direção está organizando um cardápio para oferecer almoço na temporada. “Vamos colocar banheiros também, adaptar para os turistas”, conta.
Na loja da vendedora Ana Maria da Silva, 41, por sua vez, foram contratadas mais três pessoas para ajudar nas vendas de moda praia no fim do ano. “Já estamos nos preparando para essa época”, acrescenta.
No município de Pontal do Paraná, guarda-vidas já se posicionavam na areia para evitar afogamentos na praia do Leste. Entre os comerciantes dos quiosques na orla, no entanto, a interrupção na obra do calçadão causava mais desconforto do que os incidentes da ressaca. “Demorou para calçarem esse pedaço. Agora, não sabemos quando vão fazer o restante”, afirma a artesã Geni de Souza Gaucho, 60.
Reparo
De acordo com o assessor de Comunicação da Prefeitura de Matinhos, Douglas Gabriel da Silva, a Prefeitura já providenciou reparos emergenciais no Balneário de Flamingos, local, segundo ele, mais atingido pelas ondas fortes da última ressaca. “A máquina já fez terraplanagem para que veículos pudessem voltar a transitar”, diz.
Sobre o acesso ao Pico de Matinhos, ele afirma que a Prefeitura ainda está aguardando recursos do governo do Estado para arrumar o local. Para isso, deve ser necessária a construção de quebra-mares que ofereçam resistência ao embate das ondas. “Ano que vem vamos começar a arrumar o calçadão da Avenida Atlântica até o pico. Ainda não foi feito porque não temos esses quebra-mares ”, sustenta.
As obras dos quiosques com banheiros e duchas para banhistas, conforme o assessor, ainda não ficam prontas por conta de um atraso da construtora responsável.
Na semana passada, o governo do estado anunciou que decretou estado de emergência nos municípios de Matinhos e Guaratuba, devido à ressaca. O processo deve auxiliar nos trabalhos junto à União para a liberação de verbas para reconstrução das áreas destruídas.
A reportagem não conseguiu entrar em contato com a Prefeitura de Pontal do Paraná para repercutir o assunto.
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