Incêndio na boate Kiss causou a morte de 235 pessoas. Registro do enterro, no RJ, do corpo de uma militar| Foto: REUTERS/Pilar Olivares
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O advogado de defesa de Elissandro Spohr um dos donos da boate Kiss afirmou que 830 convites da festa Agromerados foram distribuídos para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) venderem uma semana antes do evento que terminou com 235 mortos. Jader Marques disse que mais de 200 convites foram devolvidos pelos universitários, mas admitiu que outras pessoas podiam pagar na porta e outras festas de aniversário ocorriam na casa, que suporta no máximo 691 pessoas, segundo o Corpo de Bombeiros.

"A casa tinha um fluxo dinâmico. Quando dava a lotação de 700 pessoas ninguém mais entrava. O dia mesmo da festa não estava aquela maravilha que o Kiko esperava. A casa estava meio vazia até", argumenta o advogado. A Polícia Civil ouviu uma funcionária da casa, porém, que diz ter separado mil comandas para serem vendidas na noite do dia 26.

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"As pessoas que ouvimos até agora relatam que a casa estava lotada", afirma o delegado regional responsável pelo caso, Marcelo Arigony. "Já os funcionários dizem que a boate estava apenas cheia." Marques disse que a boate "tinha plenas condições de funcionamento e que o dono não sabia da apresentação com sinalizadores da banda. "Aquilo foi uma surpresa, para causar frisson", afirmou o advogado.

Fogos que causaram incêndio em boate eram irregulares

Um funcionário de uma loja de fogos de artifício de Santa Maria, ouvido pelo "Jornal Nacional", da TV Globo, afirmou nesta quarta-feira (30) que os fogos utilizados pela banda Gurizada Fandangueira não eram adequados para ambientes fechados. Segundo ele, o produtor que comprou os artefatos foi alertado sobre o perigo.

"Várias vezes a gente dizia para ele: bah, tu estás usando na parte interna. Mas ele dizia: 'Mas eu sei como eu estou usando. Estou usando com segurança. Eu tenho curso'. Disso de ele ter curso ainda é pior. Se ele tem o curso, sabia que não podia usar".

O vendedor ainda ofereceu um tipo de fogos mais seguro, que poderia ser usado em locais fechados. O produtor, no entanto, não quis pagar, segundo o comerciante. Ainda foi dada a possibilidade de um desconto: "Este custa R$ 75 (indoor, para ambientes internos). Oferecemos um preço de R$ 50. Mais barato. Ele não quis, porque era 'muito caro'", disse o vendedor.

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Os fogos de artifício usados são feitos de pólvora. Já o outro usa produtos químicos que produzem faíscas chamadas de fogo frio. A loja é regularizada, e os produtos podem ser comercializados livremente para adultos.

O vendedor confirmou que estava na loja no dia da compra, 25 de janeiro. "Ele levava só sputinik. Nesse dia, ele levou chuva de prata só para testar", afirmou.

Em Santa Maria, a Ordem dos Advogados do Brasil decidiu acompanhar as investigações da Polícia Civil sobre a tragédia da boate Kiss. Um perito estrangeiro se apresentou como voluntário para ajudar no acompanhamento.

Crea-RS faz vistoria na boate Kiss

Uma comissão do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul faz nesta quinta-feira uma vistoria na boate Kiss, em Santa Maria (RS), onde 235 jovens morreram em decorrência de um incêndio.

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A Comissão de Especialistas em Segurança contra Incêndio vai elaborar um parecer técnico sobre a edificação que possa apontar as causas do incêndio. O resultado do trabalho será divulgado na segunda-feira.

MP vai ouvir funcionários da prefeitura e bombeiros em Santa Maria

O Ministério Público Estadual do Rio Grande do Sul vai ouvir funcionários da prefeitura e do Corpo dos Bombeiros que concederam as licenças para a boate Kiss. O alvará de prevenção contra incêndios foi concedido no dia 11 de agosto de 2011 e venceu um ano depois. Em outubro, a boate pagou taxa solicitando nova vistoria, para dar validade ao alvará, o que não havia ocorrido até o dia do incêndio.

O alvará sanitário, concedido pela prefeitura, estava vencido desde o dia 31 de março. Já o alvará de funcionamento, concedido no dia 4 de outubro de 2010, é expedido uma única vez, mas precisa de vistorias anuais para seguir válido. A prefeitura de Santa Maria e os donos da boate não divulgaram até agora os relatórios dessas vistorias - o governo diz que elas ocorreram, mas não tem documentos que comprovem a fiscalização.

O advogado da casa noturna, Jader Marques, disse que o Corpo de Bombeiros demorou para avaliar reformas no imóvel, feitas pelo sócio-proprietário Alessandro Spohr. "Ele fez as reformas à espera da vistoria do Corpo de Bombeiros. Se os bombeiros tivessem ido na casa eles poderiam ter visto que a espuma estava lá no teto e poderiam ter indicado para retirá-la", justifica o advogado.

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Resgate

Além disso, Marques disse que houve falhas no atendimento à ocorrência. O advogado afirmou que as equipes "não tinham equipamentos adequados nem treinamento". "Não tinham máscaras para entrar na boate e salvar as pessoas da fumaça tóxica e ficaram pedindo ajuda para civis na rua", apontou o advogado.

Na quarta-feira (30), a Brigada Militar anunciou que abriu um inquérito policial para determinar se os procedimentos dos bombeiros foram corretos antes e durante o incêndio na boate Kiss e qual a responsabilidade da corporação. Além disso, foi criada uma comissão técnica de investigação que vai fazer um estudo para aprimorar as atividades de prevenção de incêndio.

Segundo comandante-geral da Brigada Militar, coronel Sérgio Roberto de Abreu, "as medidas já estão sendo tomadas para apurar as causas do incêndio na casa noturna, não será descartada nenhuma hipótese". As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.