O Dia Internacional do Cão-Guia, comemorado nesta quarta-feira (27), traz razões múltiplas para ser muito festejado na casa do advogado Genival Santos, de 37 anos, e da cientista de dados Katia Antunes, 33 anos, ambos deficientes visuais e usuários dos bichos trabalhadores há nove anos.
O casal, que mora em São Paulo, se aproximou, se apaixonou e se casou graças a um outro encontro amoroso, o de seus cães-guias: a labradora com golden retriever Leila, 10, e o labrador caramelo Sam, que vieram juntos, de Michigan, nos EUA, para serem a retomada da “luz dos olhos” dos dois.
“Fomos buscar os cães nos EUA, por meio do Instituto Iris, na mesma época [em 2006]. Durante os treinamentos de comando do cão, de até 12 horas por dia, aproveitava para paquerar a Katia, enquanto o Sam brincava com a Leila”, diz Genival.
Já no Brasil, o casal foi estreitando laços no intuito de “tirar dúvidas” sobre cuidados com os peludos. Acabaram se casando há cinco anos e juntando a cachorrada.
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“Brinco que, hoje, os cães são mais ligados que eu e meu marido. Um não larga o outro. A Leila faz o Sam até de travesseiro”, conta Katia, que perdeu totalmente a visão há seis anos. Ela chegou a conhecer visualmente os traços do marido.
Segundo o relato de Genival, é “muito amor envolvido” entre cães e gente.“Chego mais cedo em casa com a Leila e ela fica aguardando o Sam e a Kátia. Não sei como, mas quando eles estão há uns 500 metros do portão ainda, ela consegue saber que estão se aproximando e fica inquieta.”
A importância dos cães para a dupla é tão grande que até a casa onde moram atualmente foi escolhida para acomodar com conforto a dupla canina. Tem quintal, um quarto só para eles e muito espaço para correria.
Aposentadoria
Juntos, os quatro já foram para Argentina, Portugal, Uruguai e zanzaram de norte a sul do Brasil. Agora, Katia e Genivaldo se preparam para um momento delicado, o de aposentar seus bichos.
“O Sam ainda consegue manter a rotina de trabalho comigo normalmente, mas o ritmo está diminuindo. Ele está mais cansado e em breve terá de parar”, conta a dona.
A cadela Leila também sente as dores do tempo. Até para ser escovada, pela manhã, sente um incômodo na coluna. “Eles estão muito acostumados com o contato com gente o tempo todo. Quando aposentarem, teremos de ter uma auxiliar em casa para fazer companhia a eles ou terão de ficar na casa da avó [da sogra]”, afirma o dono.
Mesmo com a chegada dos novos condutores de seus passos, o que ainda não tem data prevista, Katia e Genival não vão abrir mão da antiga dupla de cães e cupidos.
“Fiquei cego aos 17 anos e vivi muitos momentos de revolta. Odiava a minha condição. A Leila veio trazer esperança, nova vida e nova visão, literalmente. É mais do que justo darmos uma velhice digna para nossos cães.”
Nos próximos anos, a cachorrada vai se juntar a um bebê, plano futuro do casal. “Estamos planejando tudo muito bem. Primeiro, vamos resolver a questão dos novos cães, depois, tentamos um bebê”, diz Katia.
Pelo Censo 2010 do IBGE, o Brasil tem 582 mil pessoas cegas e outras 6,5 milhões com baixa visão. Estimativas não oficiais dão conta que entre 100 e 150 deles têm acesso a um cão-guia, que tem valor de treinamento estimado em até R$ 60 mil.
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