“Já tivemos que sair de casa à 1, às 2 horas da madrugada. Estamos sem geladeira, pois a nossa explodiu", Iraíde Anhai de Oliveira, moradora da Cidade Industrial de Curitiba, que sofre com as cheias do Rio Barigui| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

Temporais já mataram dez paulistanos

As chuvas de verão mataram, até agora, dez paulistanos – oito por causa de deslizamentos. Essas vítimas moravam em regiões consideradas áreas de risco pela Defesa Civil Estadual. No entanto, muitos locais que apresentam perigo de desabamento ainda são desconhecidos – o governo municipal aguarda a finalização, pelo Instituto de Pesquisas Tecno­lógicas (IPT), da atualização do mapa das áreas de risco. O último estudo foi feito há 10 anos.

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Na CIC, problema ainda persiste

Para os moradores das vilas Jacira e Nossa Senhora Aparecida, na Cidade Industrial de Curitiba, as intervenções contra as cheias do Rio Barigui não surtiram efeito. A dona de casa Iraíde Anhai de Oliveira, 44 anos, que mora há mais de 15 anos na Vila Jacira, já perdeu a conta do número de vezes que teve a casa alagada. "Foram quatro vezes só neste ano", conta. "Já tivemos que sair de casa à 1, às 2 horas da madrugada."

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Chuva virou rotina em janeiro

A previsão de chuva para Curitiba nos próximos dias não surpreende: neste janeiro, os curitibanos já se acostumaram a sair de guarda-chuva de casa. Segundo o Instituto Tecnológico Simepar, desde o dia 16 de dezembro não ocorre uma sequência de três dias sem chuva na capital.

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Veja que janeiro é um dos meses mais chuvosos do ano

Apesar do grande volume de chuvas ocorrido neste mês, o número de alagamentos registrados pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) de Curitiba dá sinais de que vai interromper a tendência de crescimento apresentada nos últimos anos. O coordenador técnico da Comdec, inspetor Nelson de Lima Ribeiro, atribui o resultado às obras contra enchentes e a ações de limpeza dos rios. Mas o órgão vai permanecer em alerta, pois o Instituto Tecnológico Simepar prevê mais chuvas durante o mês que vem.

No ano passado, quando o índice pluviométrico de janeiro ficou em 180 milímetros, a Defesa Civil registrou 80 casos de inundações na capital. Apenas nos 25 primeiros dias de 2009, as chuvas chegaram a 250 mm, mas houve apenas 55 registros de alagamentos. De acordo com o Simepar, a média histórica para o mês é de 165 mm.

"O ano passado inteiro foi atípico", avalia o inspetor. "Choveu mui­­­to durante todo o período, e tivemos 527 casos de alagamento." As áreas tradicionalmente mais atingidas ficam nas regiões dos bairros Pinheirinho, Cidade Indus­trial, Cajuru, Boqueirão, Bairro Novo e Centro, nas bacias dos rios Iguaçu, Barigui e Ribeirão dos Padilhas.

Estatísticas

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A Comdec vem registrando as estatísticas dos atendimentos a ocorrências desde 2004, para embasar as discussões de possíveis medidas que possam evitar as tragédias ou minimizar os danos. "Mensal­mente, promovemos reuniões com representantes de todas as secretarias municipais e de órgãos dos governos estadual e federal, para expor e analisar os problemas, definindo as medidas que competem a cada órgão", afirma o coordenador técnico.

As reuniões resultaram em duas leis municipais. Uma delas determina que, nas novas construções, 25% da área do lote seja permeável. A outra exige que os novos condomínios residenciais e comerciais disponham de sistema de captação de água da chuva para diversos usos, tais como descargas e lavagem de calçadas.

Outra medida foi o cadastramento das 300 mil árvores da cidade pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente. As árvores sem chances de recuperação são retiradas, enquanto as recuperáveis são tratadas. "A partir de 2008 tivemos uma redução nas quedas de árvores", afirma o inspetor.

O Instituto das Águas do Paraná (nova denominação da Suderhsa desde outubro do ano passado) também municia o Simepar e as defesas civis dos municípios com dados das estações pluviométricas, que medem a intensidade das chuvas, e fluviométricas, que registram a vazão e a cota dos rios. "São informações básicas para que os municípios aprovem seus planos diretores, impedindo que a cidade cresça para as áreas inundáveis", diz o diretor-presidente do instituto, João Lech Samek.

Em toda a região metropolitana de Curitiba, há 27 estações equipadas com telemetria, que enviam dados de 15 em 15 minutos para o Instituto das Águas. De lá, as informações são retransmitidas ao Simepar a cada quatro horas. A mais antiga das estações pluviométricas, no atual Centro Politéc­nico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), está em operação desde 1922.

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Causas

Samek aponta as razões pelas quais a região metropolitana de Curitiba é sujeita a inundações. "Por causa da topografia praticamente plana, a velocidade de escoamento é baixa, e a água acumula com maior frequência", explica. "Em áreas de serra ocorre o contrário: o relevo acidentado favorece o escoamento rápido."

Segundo Samek, as enchentes costumam causar problema em razão das ocupações irregulares das áreas com risco de alagamento. "A lei proíbe construções nas calhas dos rios, que são áreas de preservação permanente, mas as ocupações sempre ocorrem."

A urbanização também contribui para as inundações, pois as edificações e o pavimento das ruas impermeabilizam o solo, impedindo a absorção da água. A capacidade do sistema de drenagem é outro ponto crítico: áreas com tubulações mais antigas, de baixa vazão, ou com bueiros entupidos estão mais sujeitas a alagamentos.

"Há ainda a deposição inadequada de resíduos sólidos", lembra o professor Alexandre Guetter, do Departamento de Hidráulica da Universidade Federal do Paraná. A remoção da mata ciliar também abre caminho para o assoreamento, que é a deposição de sedimentos no leito do rio.

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