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REVOLTA DA TARIFA

Causas diversas, ausência de líderes e hiperconexão

 | Brunno Covello/ Gazeta do Povo
(Foto: Brunno Covello/ Gazeta do Povo)
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Mesmo levando milhares de pessoas às ruas das principais cidades brasileiras, as manifestações populares que estão acontecendo nos últimos dias ainda não deixaram claras suas motivações. Como mostram imagens nas redes sociais, "não é sobre 20 centavos", mas sobre um grande grupo de pessoas que, mesmo sem liderança central, resolvem mostrar sua indignação em relação aos rumos que o país está tomando. Ainda é cedo para saber se os protestos surtirão algum efeito, mas, para tentar compreendê-los, a Gazeta do Povo apresenta cinco pontos comuns das marchas que estão sendo consideradas as maiores dos últimos 20 anos.

Origens

No dia 21 de janeiro, um protesto em Porto Alegre (RS) marcou o início da onda de manifestações que se espalhou pelo Brasil na última semana. Por lá, a luta começou contra o reajuste da tarifa de ônibus (R$ 2,85 para R$ 3,05). Em maio, Goiânia (GO) e Natal (RN) aderiram às marchas, seguidas por Salvador (BA) em junho. Depois do anúncio do prefeito Fernando Haddad, manifestantes na cidade de São Paulo foram às ruas para protestar contra o aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus e metrô. Com a repressão violenta da Polícia Militar, manifestantes de cidades como Brasília, Fortaleza, Belém, Belo Horizonte e Curitiba se solidarizaram e, além de buscarem a redução de suas próprias tarifas, também passaram a defender protestos pacíficos.

Sem líder

Não há uma coordenação única de todas as manifestações que estão acontecendo no Brasil, já que motivações comuns fizeram com que grupos diferentes se reunissem. Entre eles estão o Movimento Passe Livre, o Dia do Basta e o Mudança Já. Em Curitiba, a coordenação fica a cargo da Frente de Luta pelo Transporte Público, formada no último sábado, depois de uma assembleia com diferentes grupos, como a Marcha das Vadias, Marcha da Maconha e a Organização das Farofadas. No entanto, a falta de uma liderança central não significa que não haja organização – na capital, a Frente mantém quatro comissões (de segurança, finanças, organização e comunicação) para fazer com que os protestos deem certo.

Causas

Apesar de ter começado com a exigência de redução da tarifa de ônibus, o rol de reivindicações de quem vai às ruas aumentou: a PEC 37, chamada de "PEC da Impunidade"; problemas de infraestrutura nas escolas e hospitais; a violência da polícia; os gastos excessivos com a Copa do Mundo; a corrupção; e até o polêmico deputado federal Marco Feliciano (PSC) são usados como inspiração para entoar coros de descontentamento. "O foco das notícias internacionais está no Brasil. Agora é a hora de todos nos manifestarmos para mostrar como estamos desapontados com a situação atual do país", justificou a recepcionista Suelen Guedes, que participou do protesto de segunda-feira em Curitiba.

Conectados

Eventos, hashtags, fotos e vídeos são compartilhados em redes como o Facebook, Twitter e Instagram e funcionam como importantes ferramentas dos manifestantes, que as usam não apenas para promover protestos simultâneos pelo país, mas para difundir suas várias bandeiras e denunciar eventuais problemas. A rede acabou se tornando o principal elo entre as diversas manifestações do país, cujo caráter também é o mesmo: pacífico, ainda que em protesto. Coros e cartazes com as palavras "sem violência" são repetidos em todas as marchas que estão acontecendo e, apesar de poucos grupos isolados buscarem entrar propositadamente em confronto com a polícia, a maioria dos participantes recrimina a violência.

Repercussão

Os protestos estão fazendo barulho dentro e fora do país. A presidente Dilma Rousseff, que ouviu vaias de torcedores na abertura da Copa das Confederações, disse que considera o que está acontecendo legítimo e próprio da democracia. No exterior, além de manifestações de apoio realizadas em cidades como Berlim, Nova York e Buenos Aires, a Organização das Nações Unidas (ONU) defendeu que o governo garanta a liberdade nas manifestações e recomendou a busca pelo diálogo e pelo fim da violência. A imprensa internacional também está de olho e manchetes como "Milhares se reúnem em protesto nas maiores cidades do Brasil", do The New York Times, e "Clamor contra a corrupção", da Deutsche Welle, estão ecoando pelo mundo.

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