Ontem, em mais um dia de protesto generalizado, São Paulo registrou, por um lado, uma marcha pacífica de 20 mil pessoas na Avenida Paulista. Por outro, atos de vandalismo no centro da cidade, onde a sede da prefeitura foi depredada, lojas saqueadas e um carro de uma rede de televisão incendiado.
Depois de saírem pacificamente da Praça da Sé, grupos cantavam frases como "abaixa o busão" e "mãos para o alto, R$ 3,20 é um assalto".
"Todo mundo tem de protestar, porque R$ 0,20 não é brincadeira. Eu moro em Guarulhos e gasto quase R$ 13 por dia para vir trabalhar em São Paulo", disse a estudante Mariana Brugnoli. Como vários manifestantes que ocuparam a avenida, ela havia participado dos protestos pela primeira vez na segunda-feira. "Gostei e vim de novo."
Moradores dos prédios da Paulista e de ruas vizinhas colocaram panos brancos nas janelas em apoio aos protestos e aplaudiram a manifestação. Em um certo momento, um homem tirou uma lata de spray para pichar uma parede, mas logo foi contido por manifestantes que gritaram "sem violência".
"É uma pena o que estão fazendo no centro. A polícia deve ver as imagens e identificar quem praticou o vandalismo. A maioria dos manifestantes é pacífica", afirmou um dos jovens, João Victor Pavesi de Oliveira.
Vandalismo
O alvo de ontem foi a prefeitura, no centro da cidade, onde guardas-civis municipais foram encurralados. Um carro da tevê Record foi queimado, a entrada de um banco destruída e lojas da região central foram saqueadas. Da redução da tarifa a críticas ao prefeito Fernando Haddad (PT) e ao governador Gerlado Alckmin (PSDB), as queixas eram variadas.
Diferentemente da Praça da Sé, onde havia cerca de 400 homens da Polícia Militar, a segurança da sede do Executivo paulistano estava a cargo da Guarda Civil Municipal. Em pouco tempo os manifestantes lotaram a frente da prefeitura e começaram os atos de hostilidade. Um boneco do prefeito Fernando Haddad foi queimado e não demorou para que a entrada no prédio fosse forçada. Dois guardas ficaram feridos. Hoje, um novo protesto ocorre na periferia de São Paulo. Na sexta-feira, um novo ato está marcado em diversas cidades paulistas.
Governo envia Força Nacional a quatro estados
O Ministério da Justiça irá enviar tropas da Força Nacional aos estados do Rio de Janeiro, Bahia, Ceará e também ao Distrito Federal. Em Minas Gerais, as tropas chegaram ontem à noite. O pedido de ajuda foi feito pelos governadores desses estados após o crescimento da onda de protestos contra reajustes de tarifas de ônibus e gastos com a Copa, entre outras questões.
O ministério disse que os policiais "vão reforçar a segurança nos jogos da Copa das Confederações". Segundo o ministério, a possibilidade de envio da Força Nacional já estava prevista no plano de segurança dos grandes eventos. O plano também prevê o uso das Forças Armadas em situações especiais, para proteger áreas estratégicas. Mas o governo federal tem descartado essa hipótese até o momento. A reação aos protestos tem sido pontual.
A pedido do governador de Minas, Antônio Anastasia (PSDB), Belo Horizonte recebeu o reforço de 150 homens da Força Nacional de Segurança Pública. A solicitação foi feita pelo tucano diretamente à presidente Dilma Rousseff. Os homens da Força Nacional irão atuar sob o comando da PM de Minas nas operações relativas às manifestações populares na capital mineira.
"É um gesto simbólico, que demonstra o apoio da União ao esforço que Minas vem fazendo para garantir a segurança da população e dos próprios manifestantes", afirmou o comandante-geral da PM de Minas, coronel Márcio SantAna.
A Força Nacional ainda não definiu um plano geral de ação para lidar com as manifestações que surgem e crescem a cada dia. Técnicos, estudiosos e policiais estão com dificuldade de entender a natureza dos protestos. Segundo um ministro, os protestos não têm pauta nem líderes definidos, o que inviabiliza negociações ou um plano de contenção. A ordem no governo é só atuar para conter atos de violência. O ministro da Defesa, Celso Amorim, disse que o governo está diante de um enigma.
Pelo mundoDiversos atos em apoio aos protestos que ocorrem no Brasil foram registrados em outros países
Portugal: Em Lisboa, cerca de 2 mil pessoas se reuniram na praça Luís de Camões às 17 horas (horário local), onde fica o consulado brasileiro. Sob a observação da polícia, os manifestantes cantaram o Hino Nacional em clima pacífico e levantaram cartazes.No Porto, 300 pessoas se reuniram na Praça da Liberdade. Em Coimbra, cerca de 500 pessoas também fizeram um ato em apoio aos protestos no Brasil.
Inglaterra: Pelo menos 1.100 pessoas participaram da manifestação em uma praça ao lado do parlamento, em Londres, na tarde ontem, como forma de apoiar os protestos iniciados semana passada em São Paulo e em outras capitais brasileiras. O local da concentração foi a Old Palace Yard, na lateral do parlamento. A maioria dos brasileiros que vive ou que está temporariamente na Inglaterra usava camisetas das cores do Brasil e bandeiras.
Itália: Em Florença, cerca de 200 manifestantes se reuniram na praça Strozzi, que fica na região central. De acordo com a estudante Nathália Bariani, uma das organizadoras do evento, o ato foi uma manifestação de apoio aos protestos ocorridos no Brasil depois da repressão da Polícia Militar em São Paulo, na última quinta-feira.
Espanha: Cerca de 500 brasileiros que vivem em Barcelona, na Espanha, foram à praça Catalunya manifestar apoio aos atos que ocorrem no Brasil. A psicóloga Gabriela Nunes, que levou os filhos pequenos ao protesto, disse que foi ao ato porque gostaria que seus filhos pudessem viver no Brasil um dia. "Quero que meus filhos possam viver em paz lá assim como hoje vivem aqui", diz.
Austrália: Brasileiros que vivem na Austrália se reuniram ontem para mostrar solidariedade aos protestos no Brasil. Cerca de 200 pessoas foram até um parque de Sidney por volta das 17 horas. Outro protesto foi feito na cidade de Gold Cost. "A comunidade brasileira daqui se organizou para fazer uma passeata em solidariedade a todos os brasileiros que estão lutando por um Brasil melhor", disse o brasileiro que mora na Austrália Elder Carlos Moura.