Cataratas registram vazão recorde
Denise Paro, da Sucursal
As Cataratas do Iguaçu amanheceram ontem com uma vazão recorde. Por volta das 8h o volume de água chegou a 46,3 milhões de litros por segundo, pouco mais de 30 vezes acima da média normal - 1,5 milhão de litros por segundo. A marca é a maior da história do Parque Nacional do Iguaçu desde que o monitoramento hidrológico começou. O recorde anterior foi registrado em 1983 com 35 milhões de litros por segundo.
A força tamanha das águas fez com que as passarelas de acesso à Garganta do Diabo, o principal dos 275 saltos d´água das Cataratas, fossem interditadas já no domingo. Por medida de segurança, o passeio de barco do Macuco Safari que percorre o Rio Iguaçu também foi suspenso e o elevador que leva turistas ao mirante inferior deixou de operar temporariamente.
A tendência é que o nível das águas volte ao normal. Por volta das 16h de ontem, a vazão estava em 27.614 milhões de litros por segundo.
Inundações
Com água em excesso, o nível dos rios Iguaçu e Paraná está em alta. Em Capanema, o nível do Rio Iguaçu chegou a marca histórica de 32.250 m3/s às 6h, a maior vazão registrada desde 10 de junho de 1983, ou seja, 29.386 m3/s.
No reservatório de Itaipu a vazão atingiu 20.203 m3/s pela manhã. A tendência para os próximos dias é aumentar, de acordo com Boletim de Alerta Hidrológico de Itaipu,
Com o aumento do nível do Rio Paraná, a Itaipu abriu uma calha do vertedouro ontem e outra no domingo. Por volta das 17h de ontem, o vertimento era de 9.196 metros cúbicos por segundo (m3/s). A previsão para esta terça-feira é para 10 m3/s. Depois a marca deve começar a se estabilizar. A última vez que Itaipu abriu duas calhas do vertedouro foi na cheia de junho de 2013.
Inundações já são registradas nos bairros Remansito e San Rafael, em Ciudad del Este, fronteira com Foz do Iguaçu em razão do aumento do nível do Rio Paraná. Estima-se que 300 casas foram atingidas, 200 no bairro San Rafael e 100 no Remansito. No lado brasileiro, há inundações nos bairros Porto Meira e Vila Bancária.
Abastecimento
Cerca de 50 cidades estão sem água
As fortes chuvas comprometeram seriamente o fornecimento de água em algumas cidades do interior. Estima-se que cerca de 50 municípios estejam com o abastecimento afetado. Em Guarapuava e municípios vizinhos da região Centro-Sul as cheias dos rios inundaram as estações de captação de água e afetaram o funcionamento dos maquinários. Das três bombas usadas no sistema de captação de água de Guarapuava, duas ficaram submersas devido à cheia do Rio das Pedras. Dois caminhões-pipa estão abastecendo hospitais, postos de saúde e presídios.
Em Cascavel, a unidade de captação do Rio Cascavel alagou e deixou 70% da cidade sem água. A previsão é de que a situação seja normalizada amanhã. Londrina e Rio Branco do Ivaí também estão com o abastecimento prejudicado.
A Sanepar disse que está trabalhando para normalizar a situação e apela para que os moradores que começam a receber água tratada não a desperdicem e só façam a limpeza interna dos imóveis. Em caso de dúvida, pede que a população entre em contato pelo telefone 115, que funciona 24 horas.
No Oeste e no Sudeste, há casas sem luz também. Cerca de 11 mil residências ficaram sem energia devido à elevação das águas de afluentes do Iguaçu. Somente nas áreas rurais de Capitão Leônidas Marques, 5 mil unidades estão sem luz.
Agentes da Defesa Civil ainda contabilizavam ontem os prejuízos causados pelas fortes chuvas que atingiram o estado no fim de semana. Estima-se que seja a maior tragédia da história do estado em número de pessoas e cidades afetadas. No último balanço divulgado ontem, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil contabiliza 106 mil pessoas afetadas, em 124 municípios, além de 8 mil imóveis danificados e 7.849 pessoas desalojadas.
INFOGRÁFICO: Confira o volume de chuva nas cidades do Paraná
Ao todo, o governador Beto Richa declarou estado de emergência para 77 municípios e deve incluir, ainda hoje, outros 50 na mesma categoria inclusive Curitiba, cidade com maior número de atingidos e São José dos Pinhais. São Miguel do Iguaçu e Ortigueira também declararam, por conta própria, estado de emergência. O governo estadual ainda não divulgou uma estimativa financeira dos prejuízos registrados até agora no estado.
Pelo interior, as chuvas comprometeram plantações, derrubaram barreiras e pontes, causando mais de 40 pontos de interdição nas estradas, e comprometeram o fornecimento de água e luz. Entre os números da tragédia, há seis desaparecidos e nove mortos. Um deles é o jovem de 26 anos, Leandro Borodiak. Ele desapareceu no sábado, quando se juntou a um grupo de voluntários. "Ele estava ajudando a tirar todo mundo até 3 da manhã, depois voltou para casa, para retirar as coisas dele. Aí encontraram o corpo lá perto", lamenta Adilson Falcão, voluntário da Pastoral Familiar.
No Centro-Sul, o prefeito de Mallet, Rogério da Silva Almeida, considerou que a enchente foi a "pior da história" do município. Segundo ele, 274 casas foram inundadas e algumas famílias estão abrigadas no ginásio municipal. Almeida relatou prejuízos para pelo menos 18 empresários, que tiveram pontos comerciais inundados e perdas em aviários e barracões de fumo. "Só um produtor perdeu 30 mil frangos", comentou.
Prevenção
Atualmente, o Paraná não tem um sistema ideal para prevenir desastres como o desse fim de semana. Hoje, nenhuma equipe de prevenção de desastres no Paraná consegue tomar medidas específicas quando recebe um alerta de chuvas intensas. Não há um mapa suficientemente preciso de quais áreas serão afetadas. "Dizer que vai chover 150 milímetros em Curitiba não significa muita coisa. O ideal é saber o que o volume de água representa em uma determinada região, de acordo com o comportamento do rio, por exemplo, e conhecer quais locais precisam ser evacuadas e em quanto tempo", explica o capitão Eduardo Gomes Pinheiro, da Defesa Civil do Paraná. Esse levantamento está em curso e deve ficar pronto em dois anos, conta Pinheiro. O mapeamento está sendo realizado pela Mineropar e pelo Águas Paraná. O projeto, orçado em R$ 30 milhões, inclui a instalação de Centro Estadual de Gerenciamento de Risco.
Quatros pequenas hidrelétricas foram inundadas
Kátia Brembatti
O Rio Iguaçu invadiu a casa de força de quatro Pequenas Centrais hidrelétricas (PCHs) Mourão, Salto do Vau, Cavernoso I e Cavernoso II e comprometeu o funcionamento das usinas, pertencentes à Copel. A água não chegou a extrapolar o limite das barragens. Os prejuízos ainda não foram calculados, até porque não se sabem quantos e quais equipamentos foram danificados. A previsão do setor de manutenção é de que elas devam ficar cerca de seis meses sem funcionar, contudo, como geram pouca energia, não devem comprometer o abastecimento. Já a queda de produção é uma perda a ser calculada pela empresa. A Copel também teve prejuízos no canteiro de construção da usina de Baixo Iguaçu, nos municípios de Capanema e Capitão Leônidas Marques. Máquinas foram danificadas ou levadas pela água.
União da Vitória
A cidade vive um momento de tensão: preventivamente, mil famílias foram retiradas das casas em União da Vitória, no Sul do estado. Como as chuvas foram espalhadas em vários pontos do Rio Iguaçu, não houve concentração da cheia e o Iguaçu está subindo mais lentamente do que em outras enchentes. Quando o nível do rio atinge 5 metros, a cidade já entra em estado de alerta. No fim da noite de ontem, subindo vários centímetros por hora, o Iguaçu já havia passado dos 7,5 metros. A estimativa é que se estabilize ao chegar em 7,9 metros.
Isolados
A Serra da Esperança, entre Prudentópolis e Guarapuava, está interditada após um deslizamento. O bloqueio impede o acesso de quem se desloca da capital à Região Oeste do estado. O município de São João do Triunfo também segue isolado pela queda de duas pontes. Na PR-151, no sentido de Palmeira, moradores improvisaram uma passarela de madeira para o acesso à cidade. O Exército de Porto União (SC) vai averiguar a possibilidade de construir uma ponte metálica no local. Irati, com 2 mil pessoas afetadas, também ficou isolada no fim de semana em função do alagamento de um trecho da BR-277. A situação foi normalizada ontem.
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