Na coluna anterior procurei explicar por que tantos brasileiros usam as locuções vou ir, vai ir, vamos ir e vão ir em substituição às formas de vou, vai, vamos e vão, as quais, embora flexionadas no presente do indicativo, carreiam o sentido de futuro: amanhã eles não vão no (ao) jogo.
A volta ao assunto visa am-pliar dois pontos.
O primeiro deles é quanto à diferença, anotada inclusive por importantes gramáticos (Celso Cunha, por exemplo), entre as locuções e as formas simples do futuro do indicativo. Argumenta-se que devemos usar a locução quando queremos anunciar evento que logo se realizará. Assim, eu "vou comprar" um carro diz que logo vou ter (ou terei?) um possante na garagem. Temos certeza. Por outro lado, eu "comprarei" um carro nos fala de um evento futuro, mas sem muito detalhe, que vai acontecer, é claro, mas não com a mesma urgência. Caso tenha havido de fato essa diferença na nossa língua, o fato é que a distinção anunciada não existe mais. Uma amostra do que lemos e ouvimos provará (vai provar) que a locução verbal tornou-se absoluta na fala e já é hegemônica na escrita. Sem a distinção mencionada e sem causar danos à riqueza e à complexidade da nossa flor do Lácio.
O segundo ponto que gostaria de discutir visa esclarecer questionamento de uma professora. Muitos de seus alunos usam as formas vou ir, vão ir, vai ir, vamos ir. E ela sempre os corrige. Mas parece que minha coluna sugeriu o contrário. Talvez tenha faltado clareza à minha exposição. Então vai: não defendo o uso dessas locuções em situações formais de fala. Posso ser um suicida, mas não homicida. Um dos papéis da escola é proporcionar situações para que os alunos dominem registros cultos da fala e da escrita.
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