Uma leitora, professora de língua portuguesa, me mandou um e-mail bem interessante e me sugeriu uma coluna sobre o assunto, que explico. Ela leciona em duas escolas: pela manhã em uma escola particular no centro; à noite em uma escola pública na periferia de Curitiba. Todas as suas turmas são do ensino médio. Mas é fácil concluir que existe uma diferença entre a faixa etária de seus alunos. Normalmente alunos do noturno de escolas públicas apresentam defasagem bem significativa entre idade e série. É importante destacar isso porque a realidade nua e crua nos diz que boa parte de estudantes do noturno já trabalha, ajuda no orçamento da família, tem menos tempo para dar uma boa aprofundada nas questões dadas em sala de aula etc., etc.
Considerando esse quadro, minha colega confessa seu dilema: cobrar ou não cobrar dos alunos da escola pública o mesmo domínio da língua escrita padrão que ela exige das turmas da escola particular?
O único problema dessa questão é quanto ao cobrar "o mesmo domínio", dadas as diferenças mencionadas. Porque uma coisa é certa: a escola ensina a língua padrão, independentemente de o aluno ser pobre ou rico, jovem ou velho. Embora seja desaconselhável adotarmos o mesmo planejamento para escolas tão distintas, não podemos deixar escapar de nossos horizontes que a maioria dos alunos do ensino público sobretudo do noturno já é demasiadamente extorquida dos bens materiais e culturais de nosso país. Negar a essa parcela de brasileiros a possibilidade de dominar a língua padrão e todos os dividendos que isso significa é aumentar ainda mais o fosso social que tão bem caracteriza nosso país.
Pobreza não é e nunca foi sinônimo de incapacidade. Por isso devemos ensinar a língua padrão. E Machado de Assis, Drummond, Graciliano. Piadas do Ari Toledo só no intervalo.