Uma leitora estranhou minha birra na coluna Coisa que (me) irritam com algumas construções bem recorrentes nos mais variados gêneros de textos escritos, sobretudo em jornais. Viu certo purismo na minha abordagem e chamar alguém de purista, creiam, não é elogio.
Continuo acreditando que se trata de idiossincrasias. Purismo na língua, como qualquer outro tipo, é um devaneio. A língua muda, se transforma pelo uso dos seres humanos, o que chamamos de errado hoje se torna padrão amanhã. Não contesto isso.
Também não me escapa o fato de que muitas vezes escrevemos sob a mira do relógio: temos de entregar o texto tal dia e tal hora. Nem mais, nem menos. Aí é besteira pensar que vamos ter tempo de voltar ao que escrevemos para fazer pequenos ajustes.
De todo modo e para voltar às minhas manias, mantenho a convicção de que podemos, sim, evitar uma série de "novidades" e alguns clichês insuportáveis. Hoje vou falar de um que já deu o que tinha que dar: trazer na bagagem ou trazer na mala.
Não tenho dúvidas de que a primeira vez que se escreveu ou se disse algo do tipo "Fulano leva na mala a saudade do país e a esperança de dias melhores" foi uma sensação. Afinal, o comum é que levemos objetos nada figurados numa mala. A segunda vez não teve o mesmo impacto, mas vá lá. Agora, quando a construção aparece pela milionésima vez, começa a gerar certa irritação.
Vejamos este exemplo: "A nova ministra do STF leva na bagagem 36 anos de experiência na magistratura". Saindo de ambiente austero e indo para um mundo mais descolado: "Embora tenha apenas 15 anos, o jovem Felipe leva na mala a experiência de 9 anos como tecladista". Mais um: "O novo ministro nomeado por Dilma traz na bagagem a experiência de alguém que sabe apagar incêndios". Aliás, esse tal de apagar incêndios...
Não sou um idiota da objetividade, mas prefiro levar outros objetos na bagagem. Meias, camisas, cigarros. E Dramin.
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