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Adilson Alves

Queixas por causa do “por conta de”

Um leitor reclama do uso da locução "por conta de" em vez de "por causa de" em construções nas quais se estabelece relação de causalidade, como nestes exemplos mandados por ele: "As delegadas foram afastadas do caso por conta do vazamento de um vídeo" e "Por conta do péssimo desempenho do time, a diretoria já pensa em demitir o técnico".

Essa não é a primeira vez que um leitor se mostra insatisfeito com o uso dessa locução. A primeira vez foi há uns dois anos, quando uma leitora notou a troca, sobretudo nos jornais. Há mais ou menos um mês, um assinante deste jornal enviou-me e-mail dizendo que o uso de "por conta de" implicava "erro grosseiro de norma culta". Ora, vai nessa condenação um exagero, pois erro de norma seguramente não existe. Prova disso é o número significativo de ocorrência da locução em diversos tipos de textos que servem de referência ao que costumamos chamar de norma culta: livros didáticos, textos jornalísticos, livros de divulgação científica, de filosofia, sociologia, de história, de direito, romances etc. Independen­­temente do nosso gosto e da sensibilidade de nossos ouvidos, é um equívoco fecharmos nossos olhos à contundente prova empírica de que o uso sistemático, e em bons textos, fixou a locução no registro culto da nossa língua – tanto na escrita quanto na fala.

Dito isso, nada nos custa lembrar que relações causais podem ser marcadas de várias maneiras. A locução "por causa de", provavelmente a mais usada e, confesso, a que eu prefiro, figura-se apenas como uma das possibilidades. O uso excessivo de "por conta de" talvez esteja indicando, quando pouco, que muitos profissionais que escrevem regularmente não estão fazendo bem a lição de casa: a exploração contínua e sistemática dos inesgotáveis recursos expressivos da nossa língua.

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