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Um leitor reclama do uso da locução "por conta de" em vez de "por causa de" em construções nas quais se estabelece relação de causalidade, como nestes exemplos mandados por ele: "As delegadas foram afastadas do caso por conta do vazamento de um vídeo" e "Por conta do péssimo desempenho do time, a diretoria já pensa em demitir o técnico".

Essa não é a primeira vez que um leitor se mostra insatisfeito com o uso dessa locução. A primeira vez foi há uns dois anos, quando uma leitora notou a troca, sobretudo nos jornais. Há mais ou menos um mês, um assinante deste jornal enviou-me e-mail dizendo que o uso de "por conta de" implicava "erro grosseiro de norma culta". Ora, vai nessa condenação um exagero, pois erro de norma seguramente não existe. Prova disso é o número significativo de ocorrência da locução em diversos tipos de textos que servem de referência ao que costumamos chamar de norma culta: livros didáticos, textos jornalísticos, livros de divulgação científica, de filosofia, sociologia, de história, de direito, romances etc. Independen­­temente do nosso gosto e da sensibilidade de nossos ouvidos, é um equívoco fecharmos nossos olhos à contundente prova empírica de que o uso sistemático, e em bons textos, fixou a locução no registro culto da nossa língua – tanto na escrita quanto na fala.

Dito isso, nada nos custa lembrar que relações causais podem ser marcadas de várias maneiras. A locução "por causa de", provavelmente a mais usada e, confesso, a que eu prefiro, figura-se apenas como uma das possibilidades. O uso excessivo de "por conta de" talvez esteja indicando, quando pouco, que muitos profissionais que escrevem regularmente não estão fazendo bem a lição de casa: a exploração contínua e sistemática dos inesgotáveis recursos expressivos da nossa língua.

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