O título desta coluna faz referência ao verbete Palavras inexistentes, que está na página 81 do Manual de Redação e Estilo de O Estado de S. Paulo. É importante lembrar que esse material é dirigido especialmente a jornalistas, o que não o impede de servir àqueles que lidam com textos no dia a dia. Feita a observação, vejamos o que se diz sobre esse verbete: "Certifique-se sempre de que a palavra que você quer usar existe no idioma. Assim, por exemplo, os dicionários não registram gemeção, mas gemedeira, nem reconciliamento, mas reconciliação e outras como essas".
Por que se trata de um verbete interessantíssimo? Porque ele diz muito aos jornalistas e a outros profissionais da escrita e diz muito pouco quando consideramos a língua de uma perspectiva mais abrangente,. mais real.
De fato, seria perturbador se os jornalistas se aproveitassem da habilidade que têm de trabalhar com as palavras para todo dia e em toda matéria lançar novas palavras aos olhos do leitor. Por isso a necessidade de se tomar o dicionário como parâmetro para que a comunicação não fique prejudicada. O dicionário seria uma espécie de última instância, caso o leitor tivesse dúvida sobre determinado vocábulo. Entretanto, os jornalistas são treinados para que o leitor não seja obrigado a ler seu jornal preferido com um dicionário ao lado.
Contudo, a recomendação para comprovarmos a existência da palavra tendo por base o dicionário é simplesmente impossível e insustentável. Os falantes, independentemente do nível de escolaridade e da classe social, criam novas palavras com base na gramática da própria língua. As regras de formação de palavras são claras para todos os falantes. Assim, se temos "armação", "aberração" e "nutrição", alguém vai criar "gemeção". E se houver "chiadeira" de algumas pessoas, alguém vai criar "chiação".
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