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Moro num apartamento numerado como 1B. Alguém me mandou um pacote por sedex escrevendo, em vez de 1B, o número 18. O carteiro, naturalmente, não me achou no número 18, que não existe. Como eu precisava assinar, não deixou a encomenda na caixa de correio do prédio. Paciente, veio entregá-la de novo, mais duas vezes, e por último, de acordo com a lei, deixou um papel timbrado comunicando as três tentativas de me encontrar e informando que logo eu receberia um aviso para ir eu mesmo recolher a encomenda na agência central. Nada contra o carteiro: ele fez tudo exatamente de acordo com a regra, e bem. Carteiros e professores são das profissões mais simpáticas e necessárias do país e do mundo. Jamais falaria mal deles. Como o papel trazia meu nome, chegou até mim. E havia um número comprido para rastreamento, que, milagres da modernização, fui conferir na internet.

Estava lá. Postado no dia tal, tal hora, no Rio de Janeiro; transportado a tal lugar; entregue na agência X no dia seguinte, às horas tantas – tudo detalhado com perfeição. Em cada uma das anotações pressinto um funcionário atento escrevendo, conferindo, carimbando, para que o pacote chegasse em segurança ao destinatário, e só a ele. Cada uma das tentativas de entrega foi anotada. E, de fato, dois dias depois recebi o comunicado para buscar o pacote.

Tudo correu bem. Um pequeno senão, de pouca gravidade – o balcão de informação, diante do meu papel, me deu uma senha, e quando fui chamado me disseram que casos como esses eram responsabilidade só do guichê 15, o último daquela sequência orwelliana de guichês, onde aliás havia outra pequena fila. Tudo bem, estou de férias. Gosto do prédio central do Correio, com aquela abóbada de estação de trem antiga, com a arquitetura anos 30 e o piso ainda original surrado de passos, com aquele entorno de feira de cidade pequena, os vendedores de loteria, as bancas, a árvore e a sombra – lembra-me a infância e minhas primeiras cartas. Depois de selar o envelope com goma arábica (alguém se recorda?), eu tinha de ficar na ponta dos pés para arremessá-lo numa fenda misteriosa (eu imaginava que havia alguém do outro lado pegando as cartas no ar, sem deixá-las cair, como num jogo).

Fui atendido, enfim. A moça ainda foi para o depósito, três vezes, até que encontrou o famigerado pacote. Pensando bem, uma pequena incompetência inicial – trocar 1B por 18 – provocou um bom prejuízo ao país, com efeito cascata, que ocupou e atrasou a vida de umas dez pessoas, gastando carimbos e solas de sapato, espera e papéis, num custo certamente quadruplicado. Odeio pensar como um executivo de multinacional ou algum paranoico racionalizador de custos bancários ou um chefe querendo mostrar serviço ao chefe dele, mas a verdade cristalina é que a incompetência custa caro. Juro que, ao passar meu endereço aos outros, vou caprichar mais na letra.

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