As férias são o oásis mental da vida. O simples fato de saber que durante um bom período estamos livres do trabalho, que não temos horário para levantar ou dormir, que a bebida está liberada com mais generosidade, que podemos olhar pela janela e ver outra paisagem, que vamos conviver o dia inteiro com a família e os filhos, numa viagem para algum lugar em que nunca estivemos a lista é infinita, mas toda ela se resume à idéia de um relaxamento na vida. Faz muito bem à alma.
Mas, é claro, tem o avesso das férias, e é preciso cuidar para que elas não saiam pela culatra. É o momento em que a idéia do oásis vai se transformando em realidade. Não é tão simples. Começa pela decisão de como ocupar esses 30 dias. Papel e lápis na mão, tento fazer coincidir o sonho com a realidade, puxar o oásis para perto de um modo que a sua realização não seja outra fonte de angústia. Digamos, como exemplo: uma casa na praia, aqui por perto, ou em Santa Catarina depois das águas. É um bom plano. Depois, vem a readaptação da rotina. Parece fácil, mas não é. Em geral passamos só cinqüenta por cento do tempo com a família, o que sempre dá uma boa margem de novidade diária. Súbito, ficamos o tempo todo juntos. Claro, isso é bom. A mãe, a sogra, às vezes os tios, os filhos, os sobrinhos, o cachorro, esbarrando-se ali no corredor da casa na praia. Todo mundo desenvolve técnicas de sobrevivência pacífica. E todos estão elétricos de felicidade férias! É quase um desenho animado. Calma, digo para mim mesmo: fique tranqüilo. Logo você pega o jeito. Não vá estragar tudo. Meu organismo está sentindo falta da vida antiga, e quer se vingar é só isso. Não crie caso por bobagem. Fila do supermercado é assim em toda parte. Criança incomoda mesmo. Esse pedágio é um roubo. Mas eu já não sabia antes de sair?
A solução é abrir mais uma cerveja e repetir o prato um pirão de peixe maravilhoso. Não se angustie; depois você emagrece de novo. E evite discutir política com o cunhado, de cara cheia, às vésperas do ano-novo. Não entre nessa fria; desocupados gostam de brigar. Cuidado com brincadeiras com o futebol, que é sagrado. Lembre-se: o melhor já aconteceu, o Atlético se salvou. Se o vizinho abrir o som do carro na rua com o funk pancadão para ser ouvido em Morretes, juro que vou respirar fundo e pedir delicadamente que ele diminua o volume antes de chamar a polícia.
E há os planos infalíveis de ano-novo, que coloco religiosamente no papel: fuja do computador, dos e-mails e do telefone. Caminhe pela praia todo dia não, não é perda de tempo, faz bem para a saúde. E devore os livros que se empilharam na cabeceira por falta de ócio, a tranqüila paz da leitura, que é a minha versão do paraíso. Cada um tem a sua; escolha a sua versão, e que 2009 seja uma dádiva, pois merecemos.
Cristovão Tezza é escritor.