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Há duas semanas viajo pelo Paraná, revendo cidades que palmilhei nos distantes anos 70. Não, não estou em campanha, nem sou candidato a nada, assustado leitor – é que aceitei o convite do Sesc para integrar a "Semana Literária", já encerrada, e agora participo do programa "Autores & Ideias". A "Se­­ma­­na" substituiu as antigas feiras de livros. É uma boa ideia, porque o próprio conceito de "feira de livros" precisa ser reformulado, já que as livrarias independentes desaparecem do mapa e a circulação do livro vive uma mudança radical pelo advento da internet. E a internet, de acordo com a tradição brasileira de sempre colocar a carroça na frente dos bois, repete o que ocorreu com a tevê há 40 anos, chegando a todos os cantos do país antes mesmo do letramento dos usuários. Nada contra – até porque é irreversível.Se o escritor distraído entendeu o espírito da coisa, o conceito da Semana é promover encontros com o público para conversar sobre criação literária, livros e leitura. Cumprindo uma ex­­tensa e bem organizada progra­­ma­­ção, estive em Umuarama, Paranavaí, Maringá, Campo Mourão e Guarapuava. Nos bate-papos com a plateia, sempre simpática e receptiva, às vezes mais calada, às vezes mais participativa, tentei explicar alguns mistérios da literatura, aliás confusos também para mim, que vivo dela. E é surpreendente o interesse que a literatura e os livros despertam em toda parte, mesmo onde eles não se acham em lugar algum – está acontecendo uma renovada percepção da importância da leitura.

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O que é tema do programa seguinte, "Autores & Ideias", direcionado para discutir a relação entre tecnologia e leitura. Já participei de um encontro com o blogueiro Alessandro Martins, no Paço da Liberdade, aqui em Curitiba; em seguida, estive em Londrina e novamente em Ma­­ringá. No meu ofício de camelô literário, sigo a Cascavel, e quarta-feira a Pato Branco. Como todo brasileiro, vivo um pouco a nostalgia das cidades menores, o sonho escapista de me isolar em alguma casa tranquila com quin­­tal, horta, mangueiras e bananeiras – incluindo o toque de melancolia que já se disse ser um dos traços românticos da alma brasileira, como se fôssemos todos chorões à beira de um rio. Mas não existe mais "cidade pequena", nem a metáfora dos rios e chorões – o que há é uma cidade secreta e universal se interligando por essa máquina de criação de fragmentos chamada internet. Ao implodir a tevê, a internet devolveu valor à leitura e à palavra escrita, mas não ao modo antigo. (Nesse momento, só de falar em internet, parece que escrevo mais um blog que uma crônica; só faltam as fotos para o facebook...)

Descobrir que forma tomará esse novo amor ao que se escreve – ou, menos romanticamente, essa necessidade brutal de ler e escrever que assola o país dos iletrados, é tarefa que está além da intuição do cronista. Mas é sempre tema para uma boa conversa.

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